sábado, 25 de outubro de 2014

ESTRANHA BAHIA, ANTOLOGIA DE CONTOS



Alec Silva, Ricardo Santos & Rochett Tavares

apresentam

ESTRANHA BAHIA

Antologia de contos de terror, fantasia e ficção-científica

REGULAMENTO

O projeto busca reunir autores, dentro e fora do estado, a fim de publicar antologia de contos com ambientação na Bahia, nos gêneros terror, fantasia e ficção-científica. Fica a critério dos autores adicionar aos contos outros gêneros como suspense, drama, policial, comédia, aventura e romance. O objetivo da antologia é mostrar, por meio da ficção, uma Bahia além dos clichês e estereótipos.

Para tanto, cada autor deve:
·         Enviar UM conto para o email estranhabahia@gmail.com, em formato Word, espaço simples, fonte times, tamanho 12, dentro do prazo estabelecido (ver cronograma abaixo);
·         O texto deve ser ficcional, não cabendo o envio de poesia e não-ficção;
·         O conto deve ter limite mínimo de 30 mil e máximo de 50 mil caracteres com espaço;
·         O conto não deve fazer apologia a ideologias controversas, como discriminação racial, religiosa, homofobia, sexismo, xenofobia, nem de cunho violento ou fanático;
·         O conto deve ser ambientado na Bahia, em qualquer época ou universo.

A proposta é editar uma antologia em e-book gratuito, sem qualquer custo para os autores, sob total responsabilidade dos organizadores. Serão selecionados 15 contos, de 15 autores diferentes. Os três organizadores também participarão com um conto cada. Portanto, a antologia será composta por 18 contos. Os autores manterão os direitos de suas obras. Durante a seleção dos textos, haverá duas preocupações: 1ª) dar o devido equilíbrio na representação dos gêneros terror, fantasia e ficção-científica; e 2ª) buscar maior diversidade de temas e discursos narrativos

CRONOGRAMA
Prazo de envio dos contos               
15/01/2015 a 15/03/2015
Divulgação dos autores selecionados
05/04/2015
Período de edição dos contos
(discussão com os autores, visando a melhoria dos textos)
15/04/2015 a 15/07/2015
Período de finalização da antologia
(revisão, diagramação e criação das capas)

30/07/2015 a 30/09/2015

Lançamento
15/10/2015

A AMBIÇÃO DE TOMASZ BAGINSKI II

Assistam ao curta Ambition, comentado numa postagem anterior. De fato, o filme é ambicioso tanto no visual quanto nas ideias. O diretor polonês Tomasz Baginski criou uma possibilidade para o nosso futuro, onde ciência e magia têm uma relação estreita. Nesse futuro, apesar da forte influência de poderes mágicos, dá-se o devido valor à pesquisa científica, mais exatamente à exploração espacial. E aí o filme ganha uma tremenda relevância. Ambition é fruto de uma colaboração com a Agência Espacial Europeia (ESA). O objetivo é a divulgação da Missão Rosetta. Há dez anos, a ESA enviou uma sonda ao espaço para a acompanhar a trajetória de um cometa, a fim descobrirmos mais sobre a origem da Terra. Em 12 de novembro desse ano, está prevista a aterrissagem de um robô com uma série de instrumentos científicos na superfície do cometa. Será algo inédito.


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

OS SONHOS DE EINSTEIN


11 DE JUNHO DE 1905

Na esquina da Kramgasse com a Theaterplatz, há um pequeno café ao ar livre com seis mesas e uma fileira de petúnias azuis na jardineira sobre a bancada do chef; deste café é possível ver toda a cidade de Berna. Pessoas caminham pelas arcadas da Kramgasse, conversando e parando para comprar roupas de cama e mesa ou relógios ou canela; um grupo de meninos de oito anos, saindo para o intervalo da manhã da escola primária na Kochergasse, segue o professor em fila indiana pelas ruas na direção das margens do Aare; preguiçosamente uma fumaça sobe de um moinho do outro lado do rio; água jorra ruidosamente dos chafarizes da fonte Zähringer; o imenso relógio de torre na Kramgasse anuncia o quarto de hora. Se, por um instante, alguém ignorar os sons e cheiros da cidade, verá uma cena impressionante. Na esquina da Kochergasse, dois homens tentam separar-se mas não conseguem, como se nunca mais fossem se encontrar. Despedem-se, começam a andar em sentidos opostos, dão meia-volta, correm na direção um do outro e se abraçam. Ali perto, uma mulher de meia-idade está sentada na borda de pedra de uma fonte chorando baixinho. Ela agarra a pedra com suas mãos manchadas de amarelo, agarra-as tão firmemente que escorre sangue de suas mãos, e seus olhos desesperados estão fixos no chão. A persistência do seu sentimento de solidão é a de uma pessoa que acredita que nunca mais verá outras pessoas novamente. Duas mulheres vestindo suéteres caminham pela Kramgasse de braços dados, rindo com uma tal espontaneidade que seria impossível estarem pensando em qualquer coisa ligada ao futuro.

De fato, este é um mundo sem futuro. Neste mundo, o tempo é uma linha que termina no presente, tanto na realidade quanto na mente de cada um. Neste mundo, nenhuma pessoa pode imaginar o futuro. Imaginar o futuro é tão possível quanto ver cores além do violeta: os sentidos não podem conceber o que pode estar além da extremidade visível do espectro. Em um mundo sem futuro, cada vez que amigos se separam é uma morte. Em um mundo sem futuro, cada solidão é definitiva. Em um mundo sem futuro, cada risada é a última risada Em um mundo sem futuro, além do presente está o nada, e as pessoas se agarram ao presente como se estivessem penduradas à beira de um abismo. Uma pessoa que não pode imaginar o futuro é uma pessoa que não pode prever o resultado de suas ações. Por isso, alguns ficam paralisados, inativos. Passam o dia deitados na cama, acordados mas com medo de se vestirem. Ficam bebendo café e olhando fotografias. Outros pulam da cama de manhã, despreocupados com o fato de que cada ação leva ao nada, de que não podem planejar suas vidas. Vivem para o momento, e cada momento é pleno. Há ainda os que substituem o passado pelo futuro. Eles relatam cada memória, cada ação, cada causa e efeito, e fascinam-se com os caminhos que os eventos percorreram até depositá-los neste momento, o último momento do mundo, o ponto final da linha que é o tempo.

No pequeno café com as seis mesas ao ar livre e a fileira de petúnias, um jovem está sentado com seu café e doces e tortas. Inerte, fica observando a rua. Viu duas mulheres de suéteres rindo, a mulher de meia-idade na fonte, os dois amigos que não param de se despedir. Enquanto está ali sentado, uma nuvem escura passa sobre a cidade. Mas o jovem permanece sentado à mesa. Consegue imaginar somente o presente, e neste momento o presente é um céu que está escurecendo, mas sem chuva. Bebendo seu café e comendo sua torta, ele pensa maravilhado como o fim do mundo é tão escuro. Ainda não há chuva e, com os olhos semicerrados, ele tenta ler no jornal a última sentença que lerá em sua vida. Começa a chover. O jovem vai para dentro, tira seu paletó molhado e pensa maravilhado como o mundo pode acabar em chuva. Conversa sobre comida com o chef, não porque esteja esperando a chuva passar; ele não está esperando nada. Em um mundo sem futuro, cada momento é o fim do mundo. Depois de vinte minutos, a nuvem carregada vai embora, a chuva pára e o céu clareia. O jovem volta para sua mesa e fica pensando maravilhado como o mundo pode acabar cheio de sol.

Clique na imagem para assistir a uma palestra muito interessante do autor sobre as semelhanças e diferenças entre cientistas e artistas



domingo, 19 de outubro de 2014

A AMBIÇÃO DE TOMASZ BAGINSKI

Tomasz Bagiński é um ilustrador e diretor polonês. O curta de animação Katedra foi indicado ao Oscar em 2003. Apesar do roteiro fraco e do final previsível, a execução é excelente. Em 2014, o diretor lançará seu primeiro filme live-action, Ambition. Uma ficção-científica filmada na Islândia sobre uma jovem aprendiz que aprende a manipular uma nanotecnologia criadora de vida, de mundos. O mentor da garota é vivido pelo ator Aidan Gillen, o Littlefinger de Game of Thrones.

  curta Katedra



domingo, 12 de outubro de 2014

REVOLUÇÃO DE UM GÊNIO SOLITÁRIO



Até o século 18, navegar em mar aberto era uma atividade quase suicida. Assim que os navios se afastavam completamente da terra, seguir adiante até o destino e voltar dependiam de técnicas falhas de localização e muita sorte. Era comum tripulações, por mais experientes que fossem, perderem-se em alto mar, morrendo de doenças ou por naufrágio ao colidirem em rochas. As viagens levavam mais tempo do que as provisões permitiam. E isso porque, basicamente, não era possível saber com melhor exatidão a hora do porto de saída. A diferença desta com a hora a bordo, ajustada diariamente ao meio-dia local com o zênite do sol, dava o valor da localização geográfica do navio em graus. O erro de cálculo levava o navio tantos graus para longe do destino, prolongando a viagem. Portanto, o problema era como definir satisfatoriamente a longitude no mar. Definir a latitude não tinha maiores dificuldades. A referência era a observação dos corpos celestes na linha do Equador, que corta o planeta ao meio, perpendicular ao eixo de rotação da Terra. A latitude sempre teve uma justificativa concreta para existir. Já a longitude não possui a mesma referência “natural”, ficando puramente à mercê de convenções. Descobrir uma maneira confiável de calcular a longitude se tornou uma obsessão naquela época. O livro de Dava Sobel conta a história dessa corrida científica, econômica e política. E como um modesto relojoeiro inglês conseguiu resolver a questão. Com a ajuda de poucos aliados, ele criou um mecanismo genial, um cronômetro, superando concorrentes famosos e a vaidade e o preconceito das autoridades científicas. É uma leitura acessível para qualquer um interessado em ciência ou curiosos em geral.

Longitude, de Dava Sobel, 160 págs., Cia das Letras.

AVALIAÇÃO: MUITO BOM

terça-feira, 7 de outubro de 2014

RELENDO O PEQUENO PRÍNCIPE


Li o livrinho pela primeira vez quando tinha uns dez anos para um trabalho de escola. Naquela época, eu estava deixando de lado os quadrinhos da Disney e da Turma da Mônica para me dedicar às minhas novas paixões: os quadrinhos da Marvel e da DC.

Lembro de ter achado o livrinho meio idiota. Tudo era simples demais. As explicações eram simples demais. Coisa de criança. Foi uma leitura às pressas, como sempre se davam as leituras obrigatórias.

Alguns anos depois, assisti ao filme dos anos 70 com Bob Fosse, na Sessão da Tarde. Nunca mais o revi. Lembro de que era um filme bem triste.

Nos últimos trinta anos, meu contato com o universo do Pequeno Príncipe foi quase nenhum, mesmo que a lembrança do autor Saint-Exupéry e de sua obra mais famosa nunca tenham saído de moda. A verdade é que a imagem do Pequeno Príncipe ficou batida, explorada de todo jeito. 

Saint-Exupéry

Recentemente, minha esposa ganhou de alguém uma nova edição. Segundo a orelha, uma versão corrigida, da maneira como Saint-Exupéry pretendia lançar, uma vez que a publicação original havia sido póstuma. Em uma manhã de pura preguiça, eu só estava a fim de pegar um livro leve e curto para ler na cama. O escolhido foi O Pequeno Príncipe. Quatro horas depois, fechei-o, espantado com minha própria estupidez. Por que eu não tinha relido esse trocinho antes?

O sucesso do livro se dá por três razões: as ideias arrojadas, as imagens desconcertantes e o principezinho questionador. O sentimento das pessoas em relação ao livro é praticamente o mesmo há setenta anos. Ele nos leva de volta à infância. Mas não a uma infância idealizada. Quando criança, vivenciamos beleza e inocência, assim como decepção e dor.

Na verdade, o principezinho é uma metáfora da condição humana. Pelo fato de ser um personagem supostamente apenas para crianças, ele nos deixa incomodados com sua maturidade. Cada episódio infantil do livro carrega sob a pele profundos questionamentos.

Toda criança deve ter contato com a obra. Seja numa leitura silenciosa ou em voz alta. O pequeno leitor poderá se identificar com o principezinho, não dar a mínima para ele ou até mesmo odiá-lo; com sorte, irá redescobri-lo mais tarde, já adulto. Na melhor das hipóteses, o livro despertará, desde cedo, um sentimento de inquietação. Estimulará a ver o mundo que conhecemos com um olhar diferente. Em um mundo onde crueldade e amor se misturam ao ponto de ser difícil separar um e outro, só mesmo ideias inusitadas para entender como essa estranha mecânica funciona. Deve-se pensar fora da caixa para compreendermos melhor esse mundo, o universo. Não gosto de livros de ficção com mensagens ou ensinamentos. Mas, ao fim da leitura de O Pequeno Príncipe, uma conclusão é inevitável: ele é um convite ao livre pensar, à imaginação.

Se faz muito tempo que você leu esse livrinho, vá atrás dele agora mesmo.

O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, 94 págs., Agir.

AVALIAÇÃO: EXCELENTE  

sábado, 4 de outubro de 2014

OS SONHOS SELVAGENS DE FRANK FRAZETTA

A influência do americano Frank Frazetta (1928-2010) é enorme e variada. Ele não se considerava apenas um ilustrador, mas um verdadeiro artista, já que suas criações vinham de sua imaginação sem o apoio de referências ou fotografias. Começou a trabalhar com desenho aos 16 anos e fez muita coisa na indústria do entretenimento: quadrinhos, pôsteres de filmes, capas de livros, de discos e animação. Suas ilustrações transitam pela aventura, comédia, ficção-científica e fantasia. E foi neste último gênero que Frazetta se tornou um ícone, revolucionando a representação do imaginário de guerreiros, magos, bruxas, monstros e lugares sombrios. Suas ilustrações são ao mesmo tempo brutais e fascinantes. A relação entre a beleza e o vigor do traço com o jogo de cores e luzes causa o estranhamento perfeito para imagens de um mundo violento, antigo e perdido na memória da humanidade. Sua maior criação foi a interpretação que deu ao Conan dos contos de Robert E. Howard. Frank Miller chama Frazetta de O maestro. "Ele entendia o que era o sonho... Eu queria ser capaz de fazer o que ele fazia", disse o criador de O Cavaleiro das Trevas.