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capítulos do meu romance juvenil clique na imagem.
quinta-feira, 28 de maio de 2015
quarta-feira, 27 de maio de 2015
SEGUNDO ROMANCE EM GESTAÇÃO
Terminei meu primeiro
romance. E é a velha história: você só aprende fazendo. Em breve, ele sairá gratuitamente em várias plataformas. Estou mais confiante para encarar o próximo
projeto, já em gestação. Como eu sou um "arquiteto", gosto de cuidar
bem da pré-produção antes de sentar e escrever o texto. Será um romance juvenil
envolvendo dois irmãos, uma menina e um menino negros, superpoderes, crise
adolescente, racismo, bullying, quadrinhos, games, música pop, livros e mais da
cultura nerd numa Salvador contemporânea. Esse vai rolar a versão física.
sábado, 23 de maio de 2015
ESTRADA DA FÚRIA, INSANO E DELICADO
(Esta resenha contém spoilers.)
Quando saiu a notícia de que fariam outro Mad
Max, fiquei bastante cético. Mesmo com George Miller no comando da produção. Revitalizar
franquias é o caminho mais fácil para tentar ganhar dinheiro. Pega-se uma marca
conhecida por gente mais velha, e eis um incentivo para essa fatia do público voltar
às salas de cinema, já que são os mais jovens que dominam as estatísticas de frequência
há um bom tempo. Junte dois mais dois e as chances de ganhar uma gorda
bilheteria aumentam.
Os problemas da produção só fizeram o
sentimento de rejeição aumentar. Principalmente, atrasos nas filmagens. Miller
teve de abandonar o cenário clássico dos filmes anteriores. Na época, chuvas
torrenciais tornaram o árido Outback australiano numa região verde. Depois de
correr o mundo em busca de novas locações, a produção foi para a Namíbia. As
filmagens aconteceram em 2012, tendo que enfrentar o ambiente hostil do deserto
africano. E em 2013 foi necessário rodar cenas adicionais. O nível de
frustração e estresse da equipe era enorme. Era como se os caprichosos deuses
do cinema estivessem conspirando contra o filme. A sensação era de que a
insistência de George Miller em terminá-lo era um erro. Esse novo Mad Max não
era para acontecer.
Mas Estrada da Fúria não surgiu do nada. Há quase vinte anos, Miller tentava tirá-lo do papel. O diretor teve a ideia de um
4º Mad Max enquanto dirigia por Los Angeles em 1998. Em 2001, ele tentou
realizá-lo, ainda com Mel Gibson como protagonista, mas não deu certo. O 11 de
Setembro e a crise financeira da época prejudicaram o financiamento do filme.
Em 2003, Miller tentou mais uma vez, agora com dinheiro australiano. Mas a
Guerra do Iraque fez os investidores recuarem por temerem controvérsias com
conteúdo da obra. Miller jogou a toalha por um tempo. Foi fazer outras coisas.
Produziu Babe, Um Porquinho Atrapalhado, e dirigiu Happy Feet. Miller até
pensou em fazer o novo Mad Max como uma animação em 3D! Em 2009, ele contou com
apoio da Warner para voltar com tudo e finalmente fazer Estrada da Fúria. Mas os
problemas continuaram, agora já dentro da produção. Seis anos depois, o filme
estava pronto.
Até agora estou besta como a Warner continuou
bancando um projeto que não era nada no estilo Marvel ou Transformers, cujo
orçamento só fazia crescer e a data de lançamento foi adiada várias vezes. A
demora em entregar o filme não se deveu apenas aos problemas de produção. O
estúdio deu liberdade para Miller trabalhar. Ele e seus colaboradores
precisaram inventar equipamentos para serem usados especificamente no filme. E
também Miller demorou bastante tempo na pós-produção, tunando seu bebê. A
informação é de que a Warner ficou tão satisfeita com uma primeira versão do
filme que continuou soltando dinheiro.
A divulgação do filme começou devagar,
mostrando pouca coisa. Depois de tanto tempo de dúvidas, o contato inicial
agradou. O primeiro trailer mostrava o universo pós-apocalíptico dos filmes
anteriores atualizado e vibrante. Poderia dar certo. Mas ninguém estava
preparado para o que veio a seguir. A sequência mais fantástica de trailers da
última década, no mínimo. Depois detalhes da trama foram revelados. O principal
era de que a franquia seria reinventada. As personagens femininas não seriam
vítimas, e sim protagonistas. Falaram até que o filme seria feminista. Então,
de um projeto desacreditado, Estrada da Fúria ganhou status de salvação para
aqueles que já estavam cansados de ver produções de Hollywood sem criatividade
e coragem de ousar, mesmo sendo praticamente um reboot de um ícone dos anos
1980.
Meu ceticismo de antes tinha se transformado
quase numa euforia. Mas, no fundo, o ceticismo estava lá. Eu já estava
cansado de ser enganado por trailers deslumbrantes de filmes medíocres. Até a data
de lançamento nos EUA (no Brasil estreou depois), fiquei na expectativa do que
diriam os críticos gringos. Acima de tudo, aqueles que eu respeito. Então veio
a enxurrada de elogios. “Filme do ano.” “Filme de ação da década.” “Ficou
complicado fazer filme de ação agora.” “Estrada da Fúria faz James Cameron se
parecer com Brett Ratner.” Depois vieram os elogios dos críticos brasileiros na
mesma pegada. Eu estava em êxtase. Mas ainda assim, com uma ponta de desconfiança.
Afinal, toda unanimidade...
Estrada da Fúria é ao mesmo tempo insano e
delicado. Fazia tempo que eu não me divertia tanto no cinema. Eu parecia uma
criança que tinha acabado de ganhar um brinquedo novo. Estava fascinado com o
que via, mas não entedia direito o que estava acontecendo, como funcionava. Porque o filme mal começa e
já somos jogados direto na ação.
De cara, o que mais me fascinou, e continuou
assim na maior parte do filme, foi a construção daquele universo, a lógica
interna dele. E a cada elemento novo, esse fascínio aumentava. A produção
inventiva e funcional deu corpo a ideias bastante loucas, onde a banalidade do
mundo de hoje se torna a transcendência de amanhã. Quem imaginaria que a
cultura de carros possantes poderia algum dia ganhar status de símbolo
religioso. “V8! V8! V8!” Os veículos, as construções, as maquiagens, as
vestimentas, as tatuagens, as deformações, tudo existe para um propósito: fazer
com que o espectador acredite que aquele mundo existe de fato. Funcionou. Minha
suspensão de descrença me acompanhou com o maior prazer nessa jornada.
A Cidadela comandada por Immortan Joe é uma
sociedade complexa, onde cada um tem sua função determinada. Por ser uma
sociedade da guerra, dominada por homens, sua classe mais orgulhosa e
valorizada é a dos war boys, o exército de mutantes que assegura a defesa e
provê os recursos para que o lugar exista em seu esplendor, num mundo onde
domina a devastação. A grande sacada de Immortan Joe foi assegurar o controle e
a infraestrutura da Cidadela em troca não por bens materiais, numa barganha
rasteira, mercenária. Ele mantém todos os war boys no cabresto pela promessa do
Valhala (o céu dos guerreiros na
mitologia nórdica), do renascimento após a morte em combate. E como os war boys
têm prazer em morrer! Só vendo o filme eu pude entender como os caras pintados
de branco morriam sorrindo nos trailers.
E nessa sociedade patriarcal, as mulheres não
passam de parideiras e cães de guarda.
O conflito começa justamente quando um grupo de mulheres decide se libertar
desse destino perverso.
A partir daí, os caminhos de Max e Furiosa se
cruzam de maneira bem acertada pelo roteiro. Um encontro que acontece pelas
circunstâncias, quase por acaso, e é cheio de antipatias. De cara, Furiosa só
não mata Max porque a arma encostada na garganta dele falha. Mesmo à
contragosto, os dois percebem que precisam um do outro para fugir de tantos
homens sanguinários em seus carros envenenados.
Antes do lançamento de Estrada da Fúria, a
referência para filmes de ação era A Supremacia Bourne, de 2004, dirigido por
Paul Greengrass e estrelado por Matt Damon. Sua revolução foi mostrar a ação de maneira mais realista, mais próxima
dos acontecimentos, colocando a câmera na mão ou em lugares menos convencionais.
Tudo potencializado pela montagem que era dinâmica, mas não era confusa, não
era de videoclipe. Era uma montagem que tinha consistência, que tornava o
desenvolvimento dos personagens e o avanço da trama mais interessante. Era uma
coreografia de golpes e de carros em alta velocidade ou colidindo, que passava a
sensação de dor, de intensidade física e mental.
O ponto alto de cada filme da franquia Mad
Max são as perseguições de carro, a aventura na estrada. E esse quarto filme é
um sonho tornado realidade, porque praticamente todo ele é uma grande
perseguição.
É como se Miller tivesse pegado os melhores
elementos dos Mad Max anteriores para fazer uma versão definitiva. Então temos
a atmosfera de terror, construída pela montagem, fotografia e trilha sonora do
primeiro filme. O world building e o carisma dos personagens do segundo. E o
tema da esperança do terceiro.
Miller está reinventando algo que ele mesmo
criou: o road movie pós-apocalíptico, um
tipo de western futurista. O lançamento de Mad Max 2, também conhecido como The
Road Warrior, foi um choque em 1981. Entrou para o time de sequências que
mudaram profundamente os universos em que foram criados, como O Império
Contra-Ataca e O Cavaleiro das Trevas. Mad Max se tornou um ícone pop. Fazer um
Mad Max virou uma febre nos anos 80. Nenhuma imitação chegou perto do original,
geralmente produções B. Nem mesmo produções mais recentes e caras, como O Livro
de Eli.
O que mais impressiona em Estrada da Fúria é
o vigor de Miller, um senhor de 70 anos. Ele conseguiu a façanha de fazer um
filme da velha guarda, mas também com cara de século 21, contando com antigos
parceiros e com o talento de gente nova.
A começar pela arte conceitual de Brendan McCarthy, o cara que criou no papel o visual desse mundo saído de um sonho
louco compartilhado com Miller. Artista que veio dos quadrinhos, McCarthy tinha
vinte anos de idade quando assistiu Mad Max 2 no cinema, várias vezes. Tornou-se
fã. Ele fez storyboards para Tim Burton e David Lynch. Então Miller o contratou
para Estrada da Fúria. Foram mais de dez anos de conversas com o diretor e
muitos desenhos produzidos. Outros artistas contribuíram para a evolução do
visual de Estrada da Fúria, mas foi McCarthy quem deu o norte.
Como seus colaboradores bem sabem, Miller
gosta que tudo nos mundos criados por ele funcione de verdade. O que é uma dor
de cabeça a mais para o homem que tornou na prática o universo de Estrada da
Fúria viável. O designer de produção Colin Gibson e seu departamento de arte construíram os carros e caminhões.E até o veículo com tambores,
amplificadores, carregando o cara cego de vermelho com sua guitarra cuspidora
de fogo funciona; mesmo que o som dos tambores e da guitarra tenha sido
colocado na pós-produção. Mas para Miller era importante que o troço funcionasse durante as filmagens para o dar o clima.
Cerca de 90% dos efeitos do filme são
visuais, práticos. E os muitos dublês chegaram ao limite de suas habilidades, coordenados pelo veterano Guy Norris.Entre os dublês estavam artistas do
Cirque du Soleil e atletas olímpicos. A utilização de efeitos especiais é
mínima, como por exemplo para apagar digitalmente os cabos que sustentam os
dublês. O braço mecânico de Furiosa é real. Foi inserido no braço de Charlize
Theron, usando uma luva verde, para ser apagado digitalmente. E seu braço
amputado é um efeito elegante e sutil. Mas o CGI brilha mesmo na sequência de
fuga na tempestade de areia. Além dos efeitos sonoros com roncos de motores, motos,
explosões, metal contra metal, as intempéries da natureza e outros sons, que,
aliados às imagens, me fizeram praticamente pular da cadeira, sorrir, dar
risada, soltar palavrão e balançar a cabeça, confirmando como tudo aquilo que
eu estava vendo e ouvindo era incrível.
Miller tirou da aposentadoria o diretor de fotografia John Seale para trabalhar em Estrada da Fúria. Seale já tinha
trabalhado em grandes produções, como Sociedade dos Poetas Mortos, Rain Man e O
Paciente Inglês. Estrada da Fúria foi seu primeiro filme em digital, ao invés
de película, com o uso de muitas câmeras ao mesmo tempo para rodar uma cena. Nunca
vi na tela grande o deserto filmado de maneira tão bela, seja de dia ou à
noite. As cores quentes e frias. As tomadas abertas, os closes. A movimentação
das câmeras durante as perseguições, os lugares inusitados em que elas foram
colocadas. Num trabalho conjunto entre filmagem e pós-produção, outro fator
importante em Estrada da Fúria é a velocidade
do filme. Um filme normalmente é rodado numa velocidade de 24 quadros por
segundo. Em Estrada da Fúria, Miller reduzia essa velocidade quando queria que
a ação ficasse mais clara para o espectador, sem a confusão de filmes como os
da franquia Transformers. O diretor voltava à velocidade normal quando queria
que as coisas se acelerassem, pretendendo assim manter o mistério de certos
elementos e para evitar que a violência ficasse explícita, gore.
Miller fez questão de que uma mulher editasse
Estrada da Fúria. A escalada para transformar 480 horas de filmagem num filme de 120 minutos foi Margaret Sixel, esposa do diretor.Ela já havia montado
outros filmes de Miller, como Babe 2 e
Happy Feet. Mas nunca tinha trabalhado num filme de ação. Quando Sixel
perguntou ao marido porque a queria em Estrada da Fúria, ele disse que, se fosse
editado por um homem, o novo Mad Max seria como outro filme de ação qualquer. Agora
Sixel entra para o time de montadoras que entendem muito bem do assunto, de mostrar
adrenalina na tela. Mulheres também montaram Tubarão, filmes de Scorsese, de
Tarantino, O Missão Impossível de J.J. Abrams e o vindouro Star Wars, Episódio
VII. Segundo Sixel, o maior desafio foi fazer as melhores escolhas, quais cenas
usar. Como os diálogos eram poucos, havia muito material só em imagens para
contar a estória, as possibilidades eram infinitas.
A montagem tem corte secos quando é preciso dar dinâmica à ação. E tomadas mais
longas, aqueles segundos a mais tão preciosos para o desenvolvimento dos
personagens.
Assim como os
war boys de Immortan Joe são embalados por tambores e uma guitarra que cospe
fogo, é a música de Junkie XL que dá a marcação para o espectador acompanhar
essa jornada insana com sua trilha sonora que mistura potência e ternura. Ela é
viciante. Todo grande filme tem uma trilha à altura. Uma identidade sonora. É
só ouvirmos certos trechos da trilha para lembrarmos do filme.
Estrada da Fúria não teve um roteiro
propriamente dito. A estória foi toda construída por meio de anotações e,
principalmente, em imagens com storyboards e arte conceitual. Isso foi tão
importante para a elaboração da trama que o artista Brendan McCarthy foi
creditado como co-roteirista.
Em termos de roteiro, o que mais agradou em Estrada
da Fúria foi que a lógica interna daquele universo era mais mostrada do que explicada. O drama se resolve durante
a ação. Disseram que o filme não tem roteiro, que nada é explicado muito bem,
inclusive sobre o passado dos personagens. Discordo. Passamos a conhecer os
personagens pelo o que fazem e dizem. E isso é suficiente. Estrada da Fúria é
como um filme de Hitchcock. A superfície da trama é rasa, as entrelinhas são
profundas e o mise-en-scène torna algo que poderia ser medíocre numa obra de
arte. Os filmes de Hitchcock na mão de um diretor
de aluguel seriam meros filmes B. Assim como Estrada Fúria sem George
Miller seria apenas um filme de ação.
Os roteiros da trilogia original sempre tiveram um
desenvolvimento pobre. Diálogos ruins e a total falta de profundidade dos
personagens eram compensados por uma direção talentosa e ousada, utilizando com
muito acerto montagem, fotografia, música e direção de arte para criar uma
atmosfera de terror e ação. Em Estrada da Fúria, essa atmosfera chegou ao ápice.
O que há de novo é o maior cuidado de Miller com os personagens, mesmo com
poucos diálogos. Na franquia Mad Max, a imagem importa mais do que a palavra.
Em Estrada da Fúria, vemos o melhor de dois
mundos. Ele é um filme de diretor, na medida em que a excelência técnica é
evidente. E também é um filme de ator, porque Miller conseguiu grandes
performances do elenco, até nos menores papéis.
O Mad Max, de Mel Gibson é um ícone dos anos
1980, assim como o Exterminador, de Schwarzenegger e a Ripley, de Sigouney
Weaver. Principalmente, devido ao segundo filme da franquia. Gibson ainda
estava verde no primeiro Mad Max. Seu personagem era imaturo e até irritante. Mas
no segundo, o personagem estava transformado em outro homem, mais experiente.
Ele era um cavaleiro solitário, amargurado. Então o carisma de Gibson estava
pronto para conquistar as plateias. O visual desgastado mas cool de sua roupa
preta de couro com as mechas de cabelo grisalhas não saiu mais da cabeça dos
fãs.
Tom Hardy tinha um trabalho ingrato. Não
tanto por Mel Gibson, o ator, que atualmente é persona non grata em Hollywood,
por causa da vida pessoal conturbada, virando sinônimo de racismo e misoginia. Mas
pelo personagem Max Rockatansky. Hardy se saiu bem.
Seu Max não é uma emulação. É outro Max. Como
se Estrada da Fúria fosse um filme de Mad Max num universo paralelo. Assim como
o anterior, ele é um homem com um bom coração, mas que não pensa duas vezes em
fazer coisas terríveis. Ele até faz os outros pensarem que não se importa com
nada, apenas em sobreviver. Mas, no final, sua consciência pesa. E ele acaba
fazendo o que acha certo.
A Furiosa, de Charlize Theron não é
exatamente uma surpresa. A atriz já ganhou um Oscar por um personagem até mais
exigente. Porém ela é a figura central de Estrada da Fúria. É ela quem começa o
conflito da trama. Do ponto de vista narrativo, ela é a razão do filme existir.
Tom Hardy tinha a difícil tarefa de, pelo
menos, não fazer feio encarnando um personagem icônico (e realmente ele fez um
belo trabalho). Mas quem acabou criando um novo ícone foi Theron, com sua
Furiosa.
Furiosa é quase tão lacônica quanto Max. Ela
se expressa mais através da exigência física, seja dirigindo o caminhão de
guerra, seja lutando com arma de fogo, ou mano a mano. O que mais fascina nela
é o mistério. No filme, não é explicado como ela perdeu o braço. Nem como ela
conseguiu o status de Imperatriz, um cargo de comando, naquela sociedade tão
patriarcal. Só nos resta especular. Então se imagina que ela fez coisas
terríveis no passado e que agora está farta disso. Sofreu e fez sofrer. Ao
mesmo tempo, ela quer se redimir consigo mesma, dando esperança ao grupo de
mulheres, às Cinco Esposas, que ela ajuda a fugir. Para completar, toda figura
icônica tem um visual marcante. O de Furiosa, com a cabeça raspada, a pintura
de guerra no rosto e o braço mecânico, não fica nada devendo para o visual do
Mad Max, de Mel Gibson.
Furiosa é o personagem mais importante do
filme. Mas é o Nux, de Nicolas Hoult que rouba a cena. É o único personagem que
tem seu arco completo mostrado na tela, o que sofre as transformações mais profundas.
De um war boy que faria qualquer barbaridade para agradar a Immortan Joe e
assim assegurar seu lugar no Valhala, Nux percebe que pode realizar algo
grandioso não em nome da tirania, mas em nome da vida. A jornada de libertação
dele, do crente cego ao homem consciente e generoso, é executada de maneira tão
hábil que dificilmente o espectador vai considerar essa mudança radical como
forçada.
O Immortan Joe, de Hugh Keays-Byrne já entrou para a galeria de
vilões memoráveis (e ele já havia feito o vilão-mor Toecutter, do primeiro filme!). Seu visual é algo nunca antes visto no cinema, numa mistura
de mistério e ameaça. É uma evolução dos antagonistas da trilogia original. Ele
é o líder brutal não apenas de uma gangue, mas de toda uma sociedade. Sua
figura é mais uma das metáforas que podemos extrair do filme. Ele se parece
tanto com os tiranos da sociedade de consumo que oferecem o paraíso em troca da
abnegação dos seus seguidores. Ele pode ser visto como um personagem
bidimensional, a personificação de ideias: do machismo e do poder predatório.
Mas é assustador quando vemos na vida real uma figura assim, como o
ex-presidente George W. Bush e os membros do Estado Islâmico. Immortan Joe
acaba sendo uma representação estilizada de tais figuras.
Curioso ver a
evolução das personagens femininas na franquia Mad Max.
No primeiro filme,
elas são basicamente vítimas de todo tipo de violência, ou parceiras de
maníacos. As únicas duas mulheres com alguma atitude não fazem muita coisa. Uma
morre; a outra se mostra impotente ao de fato tentar salvar àquela. No segundo filme, as mulheres têm um papel mais
decisivo na trama, incluindo uma guerreira de respeito entre o povo da refinaria,
mas ainda ficam bem atrás do protagonismo dos homens. No terceiro filme, as mulheres crescem em relevância, sendo elementos
cruciais na tese de que, no final das contas, são as mulheres que fazem a
humanidade caminhar, tendo a personagem icônica de Tina Turner e a líder das
crianças do deserto como encarnações disso. Agora no quarto filme, a presença das
mulheres sofreu uma virada impressionante. Elas são a razão de ser da trama, o
grande motor do conflito. Vemos, pela primeira vez, uma personagem como Furiosa,
uma mulher tão louca e tão badass
quanto o próprio Mad Max.
Estrada da Fúria é uma nada convencional
metáfora sobre o papel (ou papéis) das mulheres na sociedade. Sobre o que os
homens acham que elas podem ou não podem fazer. E a resposta delas a respeito.
Mas por que valorizar tanto as mulheres numa
franquia tão associada ao mundo dos homens? Miller revelou que ele não tinha outra alternativa além de se tornar feminista, uma vez que ele estava cercado
por tantas mulheres marcantes em sua vida.
Motivo de todo o conflito, as Cinco Esposas mostram
que não estão ali apenas para compor a paisagem. Cada uma tem seu momento para
mostrar que são pessoas de carne e osso,
uma tão diferente da outra. A mais interessante delas é a Splendid Angharad, de Rosie Huntington-Whiteley. Ela é
um tipo de líder entre as esposas, uma referência por sua determinação e
provavelmente a inspiradora para que todas fugissem. É um papel cheio de
dignidade e fúria, que a atriz interpretou com apetite. Muito diferente de sua atuação em Transformers 3, em que ela
não passava do interesse sexual do mocinho, com a câmera passeando por seu
corpo de modelo, num papel completamente irrelevante. Destaque também para a
presença das Vuvalini, as motoqueiras nômades, cheias de atitude, experiência e
conhecimento.
Estrada da Fúria é um filme feminista na
medida em que tenta mostrar a igualdade entre homem e mulher pela parceria Furiosa/Max. E mostra mulheres lutando lado a lado para serem reconhecidas como
iguais, procurando acabar com pensamentos
de superioridade masculina nem que seja na bala. Como aqui as mulheres estão em
desvantagem, elas precisam tomar as decisões mais difíceis. A coisa caminha
muito bem nesse sentido em grande parte do filme. Mas em sua meia hora final,
ele derrapa. E feio.
Duas decisões vitais foram tomadas na trama.
Fugir da Cidadela e fazer o caminho de volta. A primeira decisão foi um risco
que Furiosa e as esposas resolveram correr. Elas estavam sozinhas nessa aposta.
Então Max e Nux entraram na jogada, por acidente. Primeiro para atrapalhar.
Depois para ajudar. Então chegou o momento em que a verdade foi revelada: o
Lugar Verde era uma utopia. Furiosa e as outras mulheres decidiram se arriscar
mais uma vez, atravessando o deserto de sal. Max chega e propõe algo diferente.
Um novo tipo de risco, mas com uma recompensa mais concreta. A ideia estúpida
das mulheres deveria ser trocada pela ideia mais consistente do cara. A ideia
de voltar para a Cidadela não deveria ter sido de Max, mas de alguma das
mulheres, ou da própria Furiosa, depois de ver seu sonho desfeito. E caberia a
Max acompanhá-las ou não nesse retorno.
Outro momento que enfraqueceu toda a bela
construção da jornada das personagens femininas foi que, sim, no final, o
mocinho salvou a mocinha. Max salvou a vida de Furiosa com aquela transfusão de
sangue. Alguém poderia dizer que foi um momento de generosidade, de
reconhecimento da igualdade entre os gêneros pela doação, literalmente, entre
parceiros de luta. A própria Furiosa tinha salvo a vida de Max antes, quando
ela impediu que ele caísse do caminhão de guerra. O problema é que Furiosa
salvou Max num momento em que várias coisas estavam acontecendo. Ela poderia
ter salvo Max, assim como qualquer um, porque todo o grupo em fuga estava
bastante ocupado e em perigo. Mas na cena da doação, só havia Furiosa para
salvar. Não sei como George Miller poderia ter resolvido a recuperação de
Furiosa depois da facada. Mas aquela cena foi um vacilo, deixou uma má
impressão.
O final propriamente dito, o retorno à
Cidadela, eu não curti muito. Entendam: o retorno foi uma das grandes sacadas
do filme. Mas o problema foi a resolução fácil. Eu diria até preguiçosa. Depois
de uma lógica interna daquele universo construída com tanto esmero, aí vêm um
final que é praticamente uma festa de otimismo. Furiosa e seu grupo são aceitos
de volta sem qualquer tipo de retaliação. O estado de medo de Immortal Joe
envolvia relações espirituais. Claro que existia ali muita gente que era
forçada a participar daquela sociedade. Mas havia os crentes também, os outros
filhos do pai morto. Os mais fiéis no mínimo buscariam vingança. Poderia acontecer
uma guerra civil entre os habitantes da Cidadela, entre fiéis e descontentes.
Mas eu entendo esse final mais genérico e
otimista. Essa é uma concessão ao se fazer um blockbuster. E Miller tinha
conseguido fazer tantas coisas menos convencionais ao longo do filme, que é até
perdoável. Eu não queria nada cínico. Porque, afinal, esse é um filme generoso, que fala no valor da vida e em sua criação, apesar desse mundo ser tão brutal, apesar
de acontecer tanta desgraça. O filme emociona, mas não é piegas. Eu queria que
fosse assim até a última cena.
Resta saber se a excelência do filme irá
influenciar Hollywood no futuro. Estrada da Fúria é uma conquista em si, uma
obra estética e filosoficamente arrojada. Procura se conectar com o grande público,
mas também quer desafiá-lo a pensar de maneira diferente sobre alguns temas
importantes. Para os outros diretores, é um tapa na cara. O recado é simples: um filme pode ser insano e
delicado ao mesmo tempo. Deve-se ter um pouco mais de ousadia na hora de
elaborar a ação e o espectador precisa se importar com a jornada dos
personagens.
Será que Estrada da Fúria vai se tornar um
game changer? Porque nenhum outro game changer recente (A Supremacia Bourne,
para filmes de ação; O Cavaleiro das Trevas, para filmes de super-heróis, por
exemplo) meteram o dedo de fato na ferida. As conquistas dessas produções são
mais de forma. Mas a revolução de Estrada
da Fúria é mais completa. É de forma e conteúdo. Por isso, é mais incômoda. Hollywood
é muito machista. Mesmo com todos os avanços sociais, mesmo com o sucesso de
filmes como a franquia Jogos Vorazes, Gravidade e Frozen, ainda tem muito
executivo de estúdio que acha que filme de ação não é lugar de mulher, mas se
ela estiver de biquini tudo bem.
Agora como é maravilhoso testemunhar o
nascimento de um clássico do cinema.
Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road, 2015), de George Miller, 120 min., Warner
terça-feira, 12 de maio de 2015
ERA DE ULTRON: O FIM DO ENCANTO DA MARVEL?
Esta resenha contém spoilers. Então se você
ainda não viu o filme...
Quando o primeiro Vingadores foi lançado, em
2012, Joss Whedon assumiu o trono de rei do mundo nerd. Ele parecia ter chegado
ao auge de uma carreira de bons serviços prestados à cultura pop com filmes,
séries de TV e quadrinhos, criando uma legião de fãs fiéis.
O filme era tudo que um leitor de quadrinhos
sempre sonhou ver no cinema: uma celebração em grande estilo de uma subcultura
tão massacrada por décadas, mas que agora se tornava o centro das atenções.
Afinal, hoje em dia ser nerd é a regra, não a exceção.
Os executivos de Hollywood mais espertos
perceberam, pelos sucessos e fracassos anteriores, que os melhores filmes de
super-heróis eram escritos e dirigidos por leitores de quadrinhos, por
conhecedores dos universos da DC e da Marvel.
Então, ninguém melhor do que Joss Whedon para
conduzir o mais ambicioso filme de super-herói. E, em linhas gerais, o cara não
decepcionou. Entregou um filme bem produzido com uma dinâmica convincente entre
personagens tão icônicos. Agradou a fãs de quadrinhos e o público em geral.
Com o primeiro Vingadores, a Marvel (comprada
pela Disney) começava de fato sua dominação do mundo do entretenimento.
Na sequência, vieram sucessos de bilheteria e
de crítica, como Guardiões da Galáxia e Capitão América - Soldado Invernal.
Depois vieram o anúncio não só de Era de
Ultron, mas de vários filmes da Marvel, mostrando que o comando do presidente
da Marvel Studios, Kevin Feige, tinha pulso firme e sabia que rumos dar aos
negócios. Enquanto que a DC (bancada pela Warner), sua concorrente mais direta,
batia cabeça no esforço de dar uma resposta à altura em termos de bilheteria e
qualidade de suas produções.
O modelo de universo compartilhado da Marvel,
onde todos os filmes conversam entre
si, fazendo referências uns aos outros, virou a nova menina dos olhos de
Hollywood. É um modelo que permite lançar uma série de filmes com uma marca
forte, conseguindo estabelecer uma linha de montagem de produção bem azeitada
para conquistar uma sequência de gordas bilheterias. Agora todo estúdio quer um
universo compartilhado para chamar de seu.
Portanto, Era de Ultron deveria ser a
confirmação de que a Marvel está no caminho certo, da consolidação de seu
domínio. Em termos comerciais, o filme está cumprindo seu papel. Ele vai bem de
arrecadação e não vai demorar para atingir a meta atual das grandes produções
de ultrapassar U$1 bilhão de bilheterias.
Já em termos criativos, o filme é um
retrocesso.
Deslumbrado com o próprio poder de fogo, a
Marvel resolveu fazer algo megalomaníaco. Com isso, perdeu o foco, perdeu
consistência. Eu achei divertido e seu visual é deslumbrante. Mas os problemas
incomodam e até deixam o espectador entediado e com vergonha alheia.
Vamos aos pontos positivos. A química entre
os vingadores ainda continua afiada, tanto nos momentos de humor e integração,
quanto nas divergências, nas brigas entre eles. Esse é um elemento que fez toda
a diferença no primeiro filme. E se mantém neste.
Os efeitos especiais foram aprimorados. Tudo
está mais bonito de ver. Inclusive as representações digitais dos vingadores. O
visual de Ultron é um luxo. As cenas de destruição estão bem inseridas no todo,
com um incrível nível de textura e movimento.
A melhor novidade do filme foi a introdução
de Visão. A caracterização está perfeita e a performance de Paul Bettany, que
também faz a voz de Jarvis, é inspiradora. O arco de sua criação talvez seja a
única coisa bem desenvolvida no filme. A cena em que ele empunha pela primeira
vez Mjolnir, o martelo de Thor, é a minha preferida.
As cenas de ação são empolgantes. Mas fiquei
frustrado com a luta entre Hulk e a Hulkbuster, já que praticamente tudo tinha
sido mostrado nos trailers.
Os pontos negativos me decepcionaram
bastante.
O mais evidente é que Era de Ultron é um
filme maior que precisou ter cenas cortadas para se tornar comercialmente
viável. Joss Whedon chegou a montar uma cópia com três horas e dez minutos. A
que está sendo exibida nos cinemas tem duas horas e vinte e um minutos. Remontar
filmes é algo normal na indústria. Mas no caso aqui, parece que a coisa foi
feita meio a facão. O que é inconcebível numa produção desse porte. Exemplo: a
parceria entre a Feiticeira Escarlate, Mercúrio e Ultron se dá sem nenhuma
explicação prévia. Os gêmeos chegam a uma igreja em ruínas no Leste Europeu para
se encontrar com Ultron. Só que o espectador não fica sabendo como Ultron
entrou em contato com os irmãos. Acontece esse tipo derrapada em outros
momentos importantes do filme. Parece não existir a mínima preocupação em
contextualizar certos eventos.
Falando nos irmãos Maximoff, para mim eles não convenceram. O
Mercúrio de Aaron Taylor-Johnson não tem o menor carisma. Para piorar, sempre
vamos compará-lo com o divertido Mercúrio de X-Men – Dias de um Futuro Esquecido.
A Feiticeira Escarlate de Elisabeth Olsen teria potencial para ser uma
personagem relevante, mas fica só na promessa. Assim como todas as personagens
femininas da Marvel no cinema.
E justamente nesse aspecto, a Marvel mostra
de uma vez por todas seu desprezo por suas heroínas. Isso acabou se tornando
uma constante, algo bastante criticado por fãs e pelos críticos. O sexismo nos
filmes da Marvel saiu do armário em Era de Ultron. Seu universo nos quadrinhos
possui personagens femininas poderosas, que já deveriam ter feito participações
no filme de outros heróis ou ter protagonizado os seus próprios.
Numa troca de e-mails que vazou recentemente,
o presidente da Marvel Entertainement, Isaac Perlmutter, admitiu que investir
em filmes de heroínas só dá prejuízo. O problema é que ele tomou como exemplos
Mulher-Gato, com Halle Berry, Supergirl, com Helen Slater, um filme dos anos
1980, dentre outras produções fracas que foram mal de bilheteria. Ele não levou
em conta sucessos recentes com protagonistas femininas como a franquia Jogos Vorazes, Frozen e Gravidade.
Ou seja, seu julgamento foi de pura má-fé. De puro machismo mesmo.
Em Era de Ultron, todas as personagens
femininas tem um desenvolvimento problemático, inclusive as mais fortes. Na
maioria do tempo, todas estão a um passo atrás dos machos. Maria Hill, doutora Cho,
a esposa do Gavião Arqueiro, a Feiticeira Escarlate e Viúva Negra. A maior
vítima é a espiã russa.
Pelo menos, as outras foram deixadas em paz.
Mas Natasha Romanoff se tornou um bichinho de pelúcia. A relação dela com Bruce
Banner/Hulk é forçada. O clima romântico é constrangedor porque foi feito de
uma maneira tão brega, com uma mão tão pesada. Uma maneira de suavizar a
personagem. Uma mulher de passado obscuro e atitudes fora do padrão. Ou seja, uma
mulher que os homens não entendem. E isso os incomoda.
Ao invés da Viúva Negra evoluir nesse
universo, merecendo até seu filme solo, ela na verdade encolheu. Isso gerou
muita revolta dos fãs. E o então feminista Joss Whedon, conhecido por suas heroínas
fortes de produções passadas, foi chamado de sexista. Um artigo interessante
até questiona a real consistência desse feminismo na obra de Whedon, acusando-o
de ser uma farsa.
Agora Whedon está com a imagem arranhada junto
aos fãs. E parece que está se despedindo da Marvel. Talvez siga o caminho de
John Favreau, o diretor de Homem de Ferro 1 e 2, que foi tão importante para o
sucesso inicial da Marvel Studios, mas que resolveu seguir o próprio caminho. Talvez
Whedon dê uma de J.J. Abrams e vá trabalhar com a DC. O Joss Whedon de Era de
Ultron é uma figura desgastada. Diferente daquele outro de 2012, quando ele podia
se sentir o nerd mais feliz do planeta.
O vilão Ultron não trás nada de novo. Nenhuma
ameaça realmente de abalar as estruturas. Depois dele, os vingadores continuam
como antes. Ele entra para a galeria dos vilões cheios de pose, mas sem
consistência, ao lado de Loki, Malekith e Ronan. Age mais como uma criança
malcriada. Bem diferente da figura ameaçadora dos trailers. Além do mais, o
arco de sua criação é apressado e sem muito sentido.
Outra coisa que me incomodou muito foi o tempo
gasto com o Gavião Arqueiro. Pra que aquilo? Gavião paizão de família? Que
coisa mais classe média. Tudo bem em mostrar o lado mais humano dos
personagens. Agora vamos fazer direito. O mesmo Jeremy Renner fez um militar e
pai de família cheio de conflitos em Guerra ao Terror, um homem em dúvida em
definir suas prioridades entre o trabalho perigoso e a vida civil. Foi algo
mais intenso e, por isso, mais emocional. Em Era de Ultron, tudo é levado na
maior leveza, gerando momentos de um draminha piegas, ou de um humor fácil,
rasteiro.
Sem considerar sentimentos nostálgicos, fato
é que os anos 1980 foram o auge dos quadrinhos da DC e da Marvel. Simplesmente
porque a razão de ser dessas editoras eram os quadrinhos e seus leitores. Havia
uma preocupação em contar boas estórias. Hoje em dia, as editoras são apenas
uma pequena parcela de um negócio muito maior. Agora os filmes são o filé
dessas empresas. Na mentalidade da indústria, filmes de super-heróis devem
ser feitos para o grande público. Ok. Isso é totalmente compreensivo. Mas os melhores
filmes de super-heróis foram aqueles que souberam aproveitar a matéria-prima dos
quadrinhos para criar obras não só pensando em dinheiro, mas também em deixar
um legado cultural.
Dos onze filmes lançados pela Marvel Studios
até hoje, Vingadores 1, Capitão América – Soldado Invernal e Guardiões da
Galáxia são os melhores. Por mostrarem algo de novo; ou melhor dizendo, algo
muito bem reciclado. E por seus realizadores saberem que filmes de super-heróis com vários
personagens devem ser resolvidos durante a ação, sem perder o foco, sem
gordura.
O saldo que fica de Era de Ultron é que
parece que Joss Whedon e a Marvel desaprenderam a fazer filmes para serem
amados. Era de Ultron está com a mesma cara de outras produções pipoca com
muita tecnologia, mas sem ter muito o que dizer, o que inspirar, abrindo
especulações para o futuro. A Marvel fará uma autocrítica, vai admitir que
errou a mão? Ou vai continuar seguindo nesse mesmo rumo, porque, afinal, o
dinheiro está entrando?
Vingadores – Era de Ultron (Avengers - Age of Ultron, 2015), de Joss Whedon,
141 min., Marvel Studios
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