segunda-feira, 20 de outubro de 2014

OS SONHOS DE EINSTEIN


11 DE JUNHO DE 1905

Na esquina da Kramgasse com a Theaterplatz, há um pequeno café ao ar livre com seis mesas e uma fileira de petúnias azuis na jardineira sobre a bancada do chef; deste café é possível ver toda a cidade de Berna. Pessoas caminham pelas arcadas da Kramgasse, conversando e parando para comprar roupas de cama e mesa ou relógios ou canela; um grupo de meninos de oito anos, saindo para o intervalo da manhã da escola primária na Kochergasse, segue o professor em fila indiana pelas ruas na direção das margens do Aare; preguiçosamente uma fumaça sobe de um moinho do outro lado do rio; água jorra ruidosamente dos chafarizes da fonte Zähringer; o imenso relógio de torre na Kramgasse anuncia o quarto de hora. Se, por um instante, alguém ignorar os sons e cheiros da cidade, verá uma cena impressionante. Na esquina da Kochergasse, dois homens tentam separar-se mas não conseguem, como se nunca mais fossem se encontrar. Despedem-se, começam a andar em sentidos opostos, dão meia-volta, correm na direção um do outro e se abraçam. Ali perto, uma mulher de meia-idade está sentada na borda de pedra de uma fonte chorando baixinho. Ela agarra a pedra com suas mãos manchadas de amarelo, agarra-as tão firmemente que escorre sangue de suas mãos, e seus olhos desesperados estão fixos no chão. A persistência do seu sentimento de solidão é a de uma pessoa que acredita que nunca mais verá outras pessoas novamente. Duas mulheres vestindo suéteres caminham pela Kramgasse de braços dados, rindo com uma tal espontaneidade que seria impossível estarem pensando em qualquer coisa ligada ao futuro.

De fato, este é um mundo sem futuro. Neste mundo, o tempo é uma linha que termina no presente, tanto na realidade quanto na mente de cada um. Neste mundo, nenhuma pessoa pode imaginar o futuro. Imaginar o futuro é tão possível quanto ver cores além do violeta: os sentidos não podem conceber o que pode estar além da extremidade visível do espectro. Em um mundo sem futuro, cada vez que amigos se separam é uma morte. Em um mundo sem futuro, cada solidão é definitiva. Em um mundo sem futuro, cada risada é a última risada Em um mundo sem futuro, além do presente está o nada, e as pessoas se agarram ao presente como se estivessem penduradas à beira de um abismo. Uma pessoa que não pode imaginar o futuro é uma pessoa que não pode prever o resultado de suas ações. Por isso, alguns ficam paralisados, inativos. Passam o dia deitados na cama, acordados mas com medo de se vestirem. Ficam bebendo café e olhando fotografias. Outros pulam da cama de manhã, despreocupados com o fato de que cada ação leva ao nada, de que não podem planejar suas vidas. Vivem para o momento, e cada momento é pleno. Há ainda os que substituem o passado pelo futuro. Eles relatam cada memória, cada ação, cada causa e efeito, e fascinam-se com os caminhos que os eventos percorreram até depositá-los neste momento, o último momento do mundo, o ponto final da linha que é o tempo.

No pequeno café com as seis mesas ao ar livre e a fileira de petúnias, um jovem está sentado com seu café e doces e tortas. Inerte, fica observando a rua. Viu duas mulheres de suéteres rindo, a mulher de meia-idade na fonte, os dois amigos que não param de se despedir. Enquanto está ali sentado, uma nuvem escura passa sobre a cidade. Mas o jovem permanece sentado à mesa. Consegue imaginar somente o presente, e neste momento o presente é um céu que está escurecendo, mas sem chuva. Bebendo seu café e comendo sua torta, ele pensa maravilhado como o fim do mundo é tão escuro. Ainda não há chuva e, com os olhos semicerrados, ele tenta ler no jornal a última sentença que lerá em sua vida. Começa a chover. O jovem vai para dentro, tira seu paletó molhado e pensa maravilhado como o mundo pode acabar em chuva. Conversa sobre comida com o chef, não porque esteja esperando a chuva passar; ele não está esperando nada. Em um mundo sem futuro, cada momento é o fim do mundo. Depois de vinte minutos, a nuvem carregada vai embora, a chuva pára e o céu clareia. O jovem volta para sua mesa e fica pensando maravilhado como o mundo pode acabar cheio de sol.

Clique na imagem para assistir a uma palestra muito interessante do autor sobre as semelhanças e diferenças entre cientistas e artistas



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