terça-feira, 7 de outubro de 2014

RELENDO O PEQUENO PRÍNCIPE


Li o livrinho pela primeira vez quando tinha uns dez anos para um trabalho de escola. Naquela época, eu estava deixando de lado os quadrinhos da Disney e da Turma da Mônica para me dedicar às minhas novas paixões: os quadrinhos da Marvel e da DC.

Lembro de ter achado o livrinho meio idiota. Tudo era simples demais. As explicações eram simples demais. Coisa de criança. Foi uma leitura às pressas, como sempre se davam as leituras obrigatórias.

Alguns anos depois, assisti ao filme dos anos 70 com Bob Fosse, na Sessão da Tarde. Nunca mais o revi. Lembro de que era um filme bem triste.

Nos últimos trinta anos, meu contato com o universo do Pequeno Príncipe foi quase nenhum, mesmo que a lembrança do autor Saint-Exupéry e de sua obra mais famosa nunca tenham saído de moda. A verdade é que a imagem do Pequeno Príncipe ficou batida, explorada de todo jeito. 

Saint-Exupéry

Recentemente, minha esposa ganhou de alguém uma nova edição. Segundo a orelha, uma versão corrigida, da maneira como Saint-Exupéry pretendia lançar, uma vez que a publicação original havia sido póstuma. Em uma manhã de pura preguiça, eu só estava a fim de pegar um livro leve e curto para ler na cama. O escolhido foi O Pequeno Príncipe. Quatro horas depois, fechei-o, espantado com minha própria estupidez. Por que eu não tinha relido esse trocinho antes?

O sucesso do livro se dá por três razões: as ideias arrojadas, as imagens desconcertantes e o principezinho questionador. O sentimento das pessoas em relação ao livro é praticamente o mesmo há setenta anos. Ele nos leva de volta à infância. Mas não a uma infância idealizada. Quando criança, vivenciamos beleza e inocência, assim como decepção e dor.

Na verdade, o principezinho é uma metáfora da condição humana. Pelo fato de ser um personagem supostamente apenas para crianças, ele nos deixa incomodados com sua maturidade. Cada episódio infantil do livro carrega sob a pele profundos questionamentos.

Toda criança deve ter contato com a obra. Seja numa leitura silenciosa ou em voz alta. O pequeno leitor poderá se identificar com o principezinho, não dar a mínima para ele ou até mesmo odiá-lo; com sorte, irá redescobri-lo mais tarde, já adulto. Na melhor das hipóteses, o livro despertará, desde cedo, um sentimento de inquietação. Estimulará a ver o mundo que conhecemos com um olhar diferente. Em um mundo onde crueldade e amor se misturam ao ponto de ser difícil separar um e outro, só mesmo ideias inusitadas para entender como essa estranha mecânica funciona. Deve-se pensar fora da caixa para compreendermos melhor esse mundo, o universo. Não gosto de livros de ficção com mensagens ou ensinamentos. Mas, ao fim da leitura de O Pequeno Príncipe, uma conclusão é inevitável: ele é um convite ao livre pensar, à imaginação.

Se faz muito tempo que você leu esse livrinho, vá atrás dele agora mesmo.

O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, 94 págs., Agir.

AVALIAÇÃO: EXCELENTE  

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