Li
o livrinho pela primeira vez quando tinha uns dez anos para um trabalho de
escola. Naquela época, eu estava deixando de lado os quadrinhos da Disney e da
Turma da Mônica para me dedicar às minhas novas paixões: os quadrinhos da
Marvel e da DC.
Lembro
de ter achado o livrinho meio idiota. Tudo era simples demais. As explicações
eram simples demais. Coisa de criança. Foi uma leitura às pressas, como sempre
se davam as leituras obrigatórias.
Alguns
anos depois, assisti ao filme dos anos 70 com Bob Fosse, na Sessão da Tarde.
Nunca mais o revi. Lembro de que era um filme bem triste.
Nos
últimos trinta anos, meu contato com o universo do Pequeno Príncipe foi quase
nenhum, mesmo que a lembrança do autor Saint-Exupéry e de sua obra mais famosa
nunca tenham saído de moda. A verdade é que a imagem do Pequeno Príncipe ficou
batida, explorada de todo jeito.
Saint-Exupéry |
Recentemente, minha esposa ganhou de alguém uma nova edição. Segundo a orelha, uma versão corrigida, da maneira como Saint-Exupéry pretendia lançar, uma vez que a publicação original havia sido póstuma. Em uma manhã de pura preguiça, eu só estava a fim de pegar um livro leve e curto para ler na cama. O escolhido foi O Pequeno Príncipe. Quatro horas depois, fechei-o, espantado com minha própria estupidez. Por que eu não tinha relido esse trocinho antes?
O
sucesso do livro se dá por três razões: as ideias arrojadas, as imagens
desconcertantes e o principezinho questionador. O sentimento das pessoas em
relação ao livro é praticamente o mesmo há setenta anos. Ele nos leva de volta
à infância. Mas não a uma infância idealizada. Quando criança, vivenciamos beleza
e inocência, assim como decepção e dor.
Na
verdade, o principezinho é uma metáfora da condição humana. Pelo fato de ser um
personagem supostamente apenas para crianças, ele nos deixa incomodados com sua
maturidade. Cada episódio infantil do livro carrega sob a pele profundos
questionamentos.
Toda
criança deve ter contato com a obra. Seja numa leitura silenciosa ou em voz
alta. O pequeno leitor poderá se identificar com o principezinho, não dar a
mínima para ele ou até mesmo odiá-lo; com sorte, irá redescobri-lo mais tarde,
já adulto. Na melhor das hipóteses, o livro despertará, desde cedo, um
sentimento de inquietação. Estimulará a ver o mundo que conhecemos com um olhar
diferente. Em um mundo onde crueldade e amor se misturam ao ponto de ser
difícil separar um e outro, só mesmo ideias inusitadas para entender como essa estranha
mecânica funciona. Deve-se pensar fora da caixa para compreendermos melhor esse
mundo, o universo. Não gosto de livros de ficção com mensagens ou ensinamentos.
Mas, ao fim da leitura de O Pequeno Príncipe, uma conclusão é inevitável: ele é
um convite ao livre pensar, à imaginação.
Se
faz muito tempo que você leu esse livrinho, vá atrás dele agora mesmo.
O
Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, 94 págs., Agir.
AVALIAÇÃO:
EXCELENTE
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