domingo, 25 de janeiro de 2015

FINALMENTE, TERMINEI MEU PRIMEIRO ROMANCE



Em 2014, depois de tantas tentativas fracassadas ao longo dos anos, consegui terminar meu primeiro romance. Meio sem querer é verdade. Fui convidado pela escritora Rita Maria Felix a escrever uma noveleta, a partir de personagens criados por ela. O texto cresceu, tornou-se uma novela, e finalmente um romance curto de, até agora, 43.567 palavras. É uma estória que pode ser rotulada de juvenil, mas que pode agradar gente de todas as idades, assim como alguns mestres que admiro fizeram ou fazem tão bem (Philip Pullman, Diana Wynne Jones, Terry Prachett, L. Frank Baum e Ursula K. LeGuin). É um romance de que tenho muito orgulho, mas que, mesmo com todo o trabalho que tive e ainda vou ter em sua versão final, não está maduro bastante para ser publicado profissionalmente. Por isso, em breve vou publicá-lo todinho no Wattpad. Já estou me preparando para escrever o segundo romance, e esse sim será pra valer. Leiam um trecho não revisado do capítulo 12 do primeiro filhote: 

Era uma noite de lua crescente. Seu Costa estava num bar no centro da cidade. Como em tantas outras vezes, estava embriagado e contando suas histórias de guerra para todos ouvirem.

Apesar do respeito a um veterano de guerra, cada vez menos os frequentadores tinham paciência para ouvi-lo contar as mesmas histórias.

Antes, deixavam-no beber até cair, tivesse ou não dinheiro no bolso. Agora, seu crédito era quase nenhum. O que gerava atrito entre ele e quem estivesse atrás do balcão. 

Havia poucos conhecidos que lhe pagavam uma bebida ultimamente. Além de alguns novos frequentadores.

Para estes últimos, ele reservava um tratamento especial, contando alguma história mais intrigante, mais escabrosa, ou tirando uma lição de vida mais profunda de sua experiência no campo de batalha. Geralmente, Seu Costa levava o novo amigo para sentar a sós. Sua esperança era de que quem não o conhecesse direito tivesse mais paciência para ouvi-lo, e mais disposição para pagar bebidas. 

Naquela noite, alguém tinha pagado pela garrafa de uísque sobre a mesa. Uísque do bom. O que elevou bastante o ânimo de seu Costa.

Mesmo em seu estado lamentável, com os sentidos comprometidos, seu Costa pôde observar melhor a figura à sua frente. Os dois estavam num canto do bar, em lados opostos da mesa. 

O homem tinha um rabo de cavalo, usava gravata, colete e um terno bem cortado, e apoiava a mão numa elegante bengala.

O estranho era que o homem parecia relativamente jovem para precisar daquele auxílio. E ele não demonstrava ter defeito físico nenhum. 

Seu Costa concluiu que fazia parte de seu figurino de habitante da Capital, de membro de sua elite.

O veterano não tinha muito apreço por aquele tipo de gente, por considerá-los causadores de guerras, aproveitadores que ganhavam dinheiro enquanto soldados perdiam suas vidas. Ele também não entedia o que um cavalheiro fazia num lugar frequentado por trabalhadores. Mas o trataria muito bem. Estava adorando o fato de um desses desgraçados lhe pagar um bom uísque. 

"Vou te contar uma história que nunca contei antes, nem para minha mulher", disse seu Costa, sorrindo para o seu benfeitor.

O homem correspondeu ao sorriso, porém mantendo distância do bafo forte de álcool. 

"Acontece que eu não tenho interesse em ouvir apenas uma história. Eu quero ouvir todas as histórias", disse o homem.

Seu Costa assustou-se, fez uma cara confusa e recuou.

"Como assim todas?"

"Cada uma delas, em detalhes."

De repente, seu Costa soltou uma gargalhada. Chamou a atenção de algumas pessoas ao redor, mas todos já estavam acostumados aos seus excessos.

"Isso levaria dias, homem. E custaria a você muitas garrafas de uísque."

O homem apertou o rosto, numa expressão irônica.

"Infelizmente, tempo é uma coisa muito valiosa para mim neste momento. Por isso, meu caro, eu tenho uma maneira mais rápida de resolvermos essa questão."

"É mesmo?"

O homem apenas balançou a cabeça, levemente. A confirmação de um cavalheiro.

Em seguida, segurou sua bengala pelo cabo, deixando à mostra a ponta prateada e redonda.

Apenas assim seu Costa pôde perceber que havia figuras gravadas, lado a lado, em sua superfície. Na verdade, era sempre a mesma figura: um sol com o rosto sério, cercado por raios de luz.

De repente, a ponta redonda abriu-se em bandas, lembrando uma flor de prata.

E logo o seu conteúdo chamou a atenção, gerando o espanto de seu Costa e de outros frequentadores.

Uma esfera de fogo saiu de dentro da flor, elevou-se e permaneceu no ar.

Agora todos a observavam, fazendo silêncio.

À exceção do homem, que não tirava os olhos de seu Costa.

“Mas que bruxaria é essa?”, perguntou o veterano, encarando a esfera. 

“Bruxaria não, meu caro, Magia e Ciência.”

Então o homem bateu com a bengala no piso duro. 

A esfera de fogo vibrou intensamente e emitiu uma onda sonora que deixou todos ali de olhos arregalados e corpos imóveis.

Apenas o homem não sofrera os efeitos da onda.

Ainda sentado, ele ergueu a mão livre e estalou os dedos.

Quem estivesse do lado de fora do bar, estranharia ver portas e janelas fechadas e as luzes apagadas naquela hora, naquele dia. Era apenas uma ilusão de ótica que não duraria muito.

O homem precisava agir rápido.

Ele soltou a bengala, que permaneceu de pé, como se estivesse colada ao chão.
A esfera de fogo vibrava no ar, emitindo um leve zumbido.

Ele levantou da cadeira, deu a volta na mesa e foi até seu Costa. Colocou as mãos nas têmporas do veterano, fechou os olhos e apertou os lábios... 

Seu Costa acordou do transe, tossindo muito, como se fosse morrer engasgado. Sentia-se como se alguém tivesse lhe dado uma surra.

Os outros frequentadores também não estavam muito bem.


Seu Costa levou um susto quando percebeu que havia em sua mesa uma garrafa de uísque do bom. Como ela foi parar ali?, perguntou-se.

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