quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

RESENHA DE TOMOS FANTÁSTICOS VOLUME I - FANTASIA MEDIEVAL E HEROICA



O cenário medieval é algo batido nas estórias de fantasia. Por isso, autores estrangeiros, novatos ou veteranos, precisam trazer aos leitores alguma coisa nova para continuar a cativá-los. No caso dos autores nacionais, o esforço acaba sendo maior por nossa falta de tradição no gênero. Nos últimos anos, a fantasia tem ganhado força no país, com o surgimento de nomes que se dedicam a contos, noveletas e romances povoados de cavaleiros, magos, feiticeiras e dragões. A qualidade das obras é variada, indo da pior cópia de Tolkien a exemplos de boa ficção, inclusive no mesmo nível dos melhores autores internacionais.

Parte dessa produção brasileira pode ser conferida na antologia Tomos Fantásticos.  Ela é composta de nove contos (na verdade, algumas estórias são noveletas) e duas HQs. Há uma mistura equilibrada entre nomes mais conhecidos e novos autores. Os trabalhos que mais me chamaram a atenção foram as estórias A Serpente e as Pombas, de Ana Lúcia Merege; A Balada de Waren, de Elsen Pontual; Aliança Improvável, de Bruno Leandro; e a HQ Os Guerreiros Jactanciosos, de Savio Roz.   

Em A Serpente e as Pombas, acompanhamos a chegada de um cavaleiro veterano de guerra a um palácio. Ele deseja reencontrar o rei, com que lutou. Também conhecemos as filhas desse rei, jovens muito cheias de vida e versadas nos mistérios da magia. Um acontecimento dramático envolverá todos esses personagens. Ana Lúcia Merege, talvez nossa maior autora no gênero, construiu um texto muito gostoso de ler, elegante e fluido. Ela conseguiu criar uma atmosfera de mundo medieval com boa pesquisa, mas que não atrapalha o ritmo da narrativa. Os personagens são tridimensionais. Nos importamos com eles, inclusive com os vilões.

Elsen Pontual foi minha maior surpresa na antologia. Por não conhecer o autor, não sabia o que esperar. È dele o texto mais longo do livro. A Balada de Waren é o depoimento de um bardo sobre uma aventura para qual foi convocado a participar ao lado de lendários heróis. Este é outro texto elegante na execução, e também no desenvolvimento das ideias. As incertezas do narrador e dos supostamente inabaláveis heróis se tornam questionamentos sobre os nobres propósitos da aventura heroica, e de como a linha entre praticar o bem e o mal é mais fina do que imaginamos.     

Aliança Improvável é outra estória que subverte as convenções da fantasia ao transformar um elfo e um ogro de inimigos mortais a aliados inusitados. Bruno Leandro vira de ponta cabeça nossa concepção do que é ser elfo e ogro. Aqui não há vilões e heróis, mas seres com visões de mundo diferentes, que fazem de tudo para defender cada um suas convicções, suas culturas.

O trabalho mais divertido ficou por conta de Savio Roz e sua HQ Os Guerreiros Jactanciosos, uma paródia muito acertada de temas caros à fantasia, principalmente, dos deveres do herói. Ela é curta, mas o quadrinista soube aproveitar bem o pouco espaço, destilando um humor corrosivo que faz referência com o nosso presente. 

As outras estórias e HQ variam entre o regular (A Cidade no Fim de Tudo, de Ana Cristina Rodrigues; e O Coração Negro, de Gian Danton) e o bom (Tirano, de Carol Chiovatto; Nobre Sacrifício, de Lucas Maziero; O Morro da Gruta Sussurrante, de André Cordenonsi; A Assassina do Reino de Gelo, de Alícia Azevedo; e a HQ Uma Canção do Velho Bardo). Cada uma possui páginas que valem a pena acompanhar, mas carregam problemas de ritmo, estilo, construção de personagens, lógica interna dos universos e desfecho das narrativas que comprometem mais ou menos a experiência de leitura.

É preciso ressaltar também a edição da editora 9Bravos. O fato de ser uma editora pequena não impediu que ela apresentasse um livro muito profissional. Todo o trabalho de capas, diagramação e arte interna está muito bonito. Além da escolha de fontes elegantes e funcionais, e da gramatura adequada do papel amarelo. O único problema é a sua revisão. Em alguns trechos, os erros apenas incomodam. Em outros, chegam a irritar. Mas, no fim, as qualidades superam em muito os defeitos.  É uma obra que merece ser prestigiada.

Tomos Fantásticos Volume I – Fantasia Medieval e Heroica, vários autores, 212 págs., 9Bravos


AVALIAÇÃO: MUITO BOM

6 comentários:

  1. Nem preciso dizer o quanto fiquei feliz e honrada com essa apreciação! Obrigada, Ricardo!

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    1. Tentei fazer uma crítica honesta de todo o livro. Meu elogio é consequência de seu trabalho, de sua dedicação em elaborar um bom texto, Ana! Continue assim. Aliás, melhore sempre rs abs

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  2. Olá, Ricardo, muito obrigado pela leitura e pela resenha. Fico muito feliz por você ter gostado da Balada de Waren, foi uma estória que curti bastante escrever. Grande abraço, irmão!

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  3. Fiquei honrado com a menção, e feliz por você ter gostado do meu trabalho. Ainda me considero um aprendiz, com muito o que conhecer pela frente e um longo caminho a trilhar, mas é ótimo saber que as pessoas gostam de nosso trabalho.
    Grande abraço!

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    1. Sou um autor aprendendo a contar minhas estórias. E não há nada melhor para me estimular do que ler outros textos bacanas de gente também batalhando por sua escrita. abs

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