O
cenário medieval é algo batido nas estórias de fantasia. Por isso, autores estrangeiros, novatos ou veteranos, precisam trazer aos leitores
alguma coisa nova para continuar a cativá-los. No caso dos autores nacionais, o
esforço acaba sendo maior por nossa falta de tradição no gênero. Nos últimos
anos, a fantasia tem ganhado força no país, com o surgimento de nomes que se
dedicam a contos, noveletas e romances povoados de cavaleiros, magos,
feiticeiras e dragões. A qualidade das obras é variada, indo da pior cópia de
Tolkien a exemplos de boa ficção, inclusive no mesmo nível dos melhores autores
internacionais.
Parte
dessa produção brasileira pode ser conferida na antologia Tomos Fantásticos. Ela é composta de nove contos (na verdade,
algumas estórias são noveletas) e duas HQs. Há uma mistura equilibrada entre
nomes mais conhecidos e novos autores. Os trabalhos que mais me chamaram a atenção
foram as estórias A Serpente e as Pombas, de Ana Lúcia Merege; A Balada de
Waren, de Elsen Pontual; Aliança Improvável, de Bruno Leandro; e a HQ Os
Guerreiros Jactanciosos, de Savio Roz.
Em
A Serpente e as Pombas, acompanhamos a chegada de um cavaleiro veterano de
guerra a um palácio. Ele deseja reencontrar o rei, com que lutou. Também
conhecemos as filhas desse rei, jovens muito cheias de vida e versadas nos
mistérios da magia. Um acontecimento dramático envolverá todos esses
personagens. Ana Lúcia Merege, talvez nossa maior autora no gênero, construiu
um texto muito gostoso de ler, elegante e fluido. Ela conseguiu criar uma
atmosfera de mundo medieval com boa pesquisa, mas que não atrapalha o ritmo da
narrativa. Os personagens são tridimensionais. Nos importamos com eles,
inclusive com os vilões.
Elsen
Pontual foi minha maior surpresa na antologia. Por não conhecer o autor, não
sabia o que esperar. È dele o texto mais longo do livro. A Balada de Waren é o
depoimento de um bardo sobre uma aventura para qual foi convocado a participar
ao lado de lendários heróis. Este é outro texto elegante na execução, e também
no desenvolvimento das ideias. As incertezas do narrador e dos supostamente
inabaláveis heróis se tornam questionamentos sobre os nobres propósitos da
aventura heroica, e de como a linha entre praticar o bem e o mal é mais fina do
que imaginamos.
Aliança
Improvável é outra estória que subverte as convenções da fantasia ao
transformar um elfo e um ogro de inimigos mortais a aliados inusitados. Bruno
Leandro vira de ponta cabeça nossa concepção do que é ser elfo e ogro. Aqui não
há vilões e heróis, mas seres com visões de mundo diferentes, que fazem de tudo
para defender cada um suas convicções, suas culturas.
O
trabalho mais divertido ficou por conta de Savio Roz e sua HQ Os Guerreiros
Jactanciosos, uma paródia muito acertada de temas caros à fantasia,
principalmente, dos deveres do herói. Ela é curta, mas o quadrinista
soube aproveitar bem o pouco espaço, destilando um humor corrosivo que faz
referência com o nosso presente.
As outras estórias e HQ variam entre o regular (A Cidade no Fim de Tudo, de Ana
Cristina Rodrigues; e O Coração Negro, de Gian Danton) e o bom (Tirano, de
Carol Chiovatto; Nobre Sacrifício, de Lucas Maziero; O Morro da Gruta
Sussurrante, de André Cordenonsi; A Assassina do Reino de Gelo, de Alícia Azevedo; e a HQ Uma Canção do Velho Bardo). Cada uma possui páginas que valem a pena acompanhar, mas carregam problemas de ritmo, estilo, construção de personagens,
lógica interna dos universos e desfecho das narrativas que comprometem mais ou
menos a experiência de leitura.
É
preciso ressaltar também a edição da editora 9Bravos. O fato de ser uma editora
pequena não impediu que ela apresentasse um livro muito profissional. Todo o
trabalho de capas, diagramação e arte interna está muito bonito. Além da
escolha de fontes elegantes e funcionais, e da gramatura adequada do papel
amarelo. O único problema é a sua revisão. Em alguns trechos, os erros apenas
incomodam. Em outros, chegam a irritar. Mas, no fim, as qualidades superam em
muito os defeitos. É uma obra que
merece ser prestigiada.
Tomos
Fantásticos Volume I – Fantasia Medieval e Heroica, vários autores, 212 págs.,
9Bravos
AVALIAÇÃO:
MUITO BOM
Nem preciso dizer o quanto fiquei feliz e honrada com essa apreciação! Obrigada, Ricardo!
ResponderExcluirTentei fazer uma crítica honesta de todo o livro. Meu elogio é consequência de seu trabalho, de sua dedicação em elaborar um bom texto, Ana! Continue assim. Aliás, melhore sempre rs abs
ExcluirOlá, Ricardo, muito obrigado pela leitura e pela resenha. Fico muito feliz por você ter gostado da Balada de Waren, foi uma estória que curti bastante escrever. Grande abraço, irmão!
ResponderExcluirEspero ler outros textos seus em breve. abs
ExcluirFiquei honrado com a menção, e feliz por você ter gostado do meu trabalho. Ainda me considero um aprendiz, com muito o que conhecer pela frente e um longo caminho a trilhar, mas é ótimo saber que as pessoas gostam de nosso trabalho.
ResponderExcluirGrande abraço!
Sou um autor aprendendo a contar minhas estórias. E não há nada melhor para me estimular do que ler outros textos bacanas de gente também batalhando por sua escrita. abs
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