Sabe aquela voz interior que você fica ouvindo
dentro de sua cabeça? Ora você pensa que é sua consciência tentando ajudá-lo a
levantar sua autoestima, para finalmente criar coragem e convidar aquela colega de trabalho para sair, ou para
começar a fazer exercícios físicos, ou para dar um basta no emprego de merda. Ou
tudo isso junto. Ou senão você pensa que a voz interior é o sinal mais claro de
um quadro de loucura crescente.
Mas e se a voz interior fosse a de um alienígena que
tomou seu corpo como a única maneira de sobreviver em nosso planeta?
Quando Roen
Tan começa a ouvir essa voz dizendo coisas para ele, dando-lhe ordens, ele realmente
pensa que está maluco. Roen é um jovem gordo e asiático, que adora pizza e
videogame e trabalha como programador numa empresa que ele odeia. Seu cotidiano
é bastante medíocre. E ele não tem muitos objetivos na vida.
Então ele conhece Tao. Na verdade, Tao entra em seu
corpo numa situação de emergência. Mas ele não é o único alienígena entre nós.
A nave com seu povo, os Quasing, caiu e foi destruída na Terra milhões de anos
atrás, antes mesmo do surgimento do homem. Como eles não podiam sobreviver em
nossa atmosfera, foram obrigados a improvisar. Resolveram impulsionar o
desenvolvimento da vida e da raça humana ao longo dos séculos para que um dia
houvesse tecnologia suficiente para construir outra nave e voltar para casa.
Wesley Chu |
Para certos Quasing, a guerra é a forma mais rápida
de dar saltos tecnológicos. Outros discordam, entendendo que os humanos não são
meros receptáculos, vendo-os mais como preciosos colaboradores. A divergência
causa um racha. Há milhares de anos, os Prophus lutam para voltar para casa sem
destruir a raça humana e o planeta, e os Genjix não dão a mínima, fazem de tudo
para alcançar seu objetivo maior.
É aí que, na Chicago nos dias atuais, o pobre do
Roen se mete nessa guerra civil secreta, em que alienígenas no interior dos
corpos de políticos, empresários e forças policiais decidem o nosso futuro.
Quando um Quasing está no corpo de alguém, ele não
tem o poder de controlar sua coordenação motora, suas ações; exceto durante o
sono. O que ele realmente faz é influenciar a pessoa a tomar determinadas
atitudes, a pensar melhor, com mais clareza, ou simplesmente gritar para que a
pessoa acorde pra vida.
Tao é um
Prophus, um espião, mestre em armas, artes marciais e tecnologia. Ele tinha
conseguido transformar seu hospedeiro anterior num excelente agente de campo. Mas
este acabou morto numa emboscada, restando a Tao entrar no copo de Roen, que
saía de uma boate depois de uma noite malsucedida.
Tao precisa voltar à ativa o mais rápido possível. Fazer
com que Roen seja morto não é uma opção. Então ele precisa convencer o cara a
largar a comida gordurosa, a vida sedentária de jogador de videogame e simplesmente
se tornar um James Bond. O processo de transformação de Roen é divertido e bem
orquestrado. Acontece no ritmo certo, já que há avanços e recuos, inseguranças
e superações. Uma das qualidades do romance é a interação, nem sempre amistosa,
entre Roen e Tao.
A primeira metade do livro é mais empolgante. Os personagens
são apresentados com bastante vigor, e há mais criatividade na construção das
cenas e no desenvolvimento das motivações dos personagens. Na segunda metade, a
trama fica um pouco chata, sem tanto brilho. A coisa volta a melhor nos capítulos
finais.
Outro aspecto do romance que me incomodou foi o fato
do autor praticamente reduzir momentos cruciais da História, principalmente as
guerras, como consequência exclusiva da disputa entre Prophus e Genjix. De
certa maneira, ele tira dos seres humanos tanto a culpa por muita atrocidade e
violência, como o mérito por diversos avanços científicos.
A ideia do romance parece boba. Premissa de seriado
de TV. Mas o bacana do livro é não se levar tão a sério. É uma mistura de trama
de espionagem, ação e humor. É uma boa pedida para desligar a mente.
O volume é o primeiro de uma trilogia.
The Lives of
Tao, Wesley Chu, 460 págs., 2013, Angry Robots
AVALIAÇÃO: BOM
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