domingo, 7 de dezembro de 2014

RESENHA DE THE LIVES OF TAO, DE WESLEY CHU


  
Sabe aquela voz interior que você fica ouvindo dentro de sua cabeça? Ora você pensa que é sua consciência tentando ajudá-lo a levantar sua autoestima, para finalmente criar coragem e convidar aquela colega de trabalho para sair, ou para começar a fazer exercícios físicos, ou para dar um basta no emprego de merda. Ou tudo isso junto. Ou senão você pensa que a voz interior é o sinal mais claro de um quadro de loucura crescente.

Mas e se a voz interior fosse a de um alienígena que tomou seu corpo como a única maneira de sobreviver em nosso planeta?

Quando Roen Tan começa a ouvir essa voz dizendo coisas para ele, dando-lhe ordens, ele realmente pensa que está maluco. Roen é um jovem gordo e asiático, que adora pizza e videogame e trabalha como programador numa empresa que ele odeia. Seu cotidiano é bastante medíocre. E ele não tem muitos objetivos na vida.

Então ele conhece Tao. Na verdade, Tao entra em seu corpo numa situação de emergência. Mas ele não é o único alienígena entre nós. A nave com seu povo, os Quasing, caiu e foi destruída na Terra milhões de anos atrás, antes mesmo do surgimento do homem. Como eles não podiam sobreviver em nossa atmosfera, foram obrigados a improvisar. Resolveram impulsionar o desenvolvimento da vida e da raça humana ao longo dos séculos para que um dia houvesse tecnologia suficiente para construir outra nave e voltar para casa. 

Wesley Chu
Para certos Quasing, a guerra é a forma mais rápida de dar saltos tecnológicos. Outros discordam, entendendo que os humanos não são meros receptáculos, vendo-os mais como preciosos colaboradores. A divergência causa um racha. Há milhares de anos, os Prophus lutam para voltar para casa sem destruir a raça humana e o planeta, e os Genjix não dão a mínima, fazem de tudo para alcançar seu objetivo maior.

É aí que, na Chicago nos dias atuais, o pobre do Roen se mete nessa guerra civil secreta, em que alienígenas no interior dos corpos de políticos, empresários e forças policiais decidem o nosso futuro.

Quando um Quasing está no corpo de alguém, ele não tem o poder de controlar sua coordenação motora, suas ações; exceto durante o sono. O que ele realmente faz é influenciar a pessoa a tomar determinadas atitudes, a pensar melhor, com mais clareza, ou simplesmente gritar para que a pessoa acorde pra vida. 

Tao é um Prophus, um espião, mestre em armas, artes marciais e tecnologia. Ele tinha conseguido transformar seu hospedeiro anterior num excelente agente de campo. Mas este acabou morto numa emboscada, restando a Tao entrar no copo de Roen, que saía de uma boate depois de uma noite malsucedida.

Tao precisa voltar à ativa o mais rápido possível. Fazer com que Roen seja morto não é uma opção. Então ele precisa convencer o cara a largar a comida gordurosa, a vida sedentária de jogador de videogame e simplesmente se tornar um James Bond. O processo de transformação de Roen é divertido e bem orquestrado. Acontece no ritmo certo, já que há avanços e recuos, inseguranças e superações. Uma das qualidades do romance é a interação, nem sempre amistosa, entre Roen e Tao.

A primeira metade do livro é mais empolgante. Os personagens são apresentados com bastante vigor, e há mais criatividade na construção das cenas e no desenvolvimento das motivações dos personagens. Na segunda metade, a trama fica um pouco chata, sem tanto brilho. A coisa volta a melhor nos capítulos finais.

Outro aspecto do romance que me incomodou foi o fato do autor praticamente reduzir momentos cruciais da História, principalmente as guerras, como consequência exclusiva da disputa entre Prophus e Genjix. De certa maneira, ele tira dos seres humanos tanto a culpa por muita atrocidade e violência, como o mérito por diversos avanços científicos.

A ideia do romance parece boba. Premissa de seriado de TV. Mas o bacana do livro é não se levar tão a sério. É uma mistura de trama de espionagem, ação e humor. É uma boa pedida para desligar a mente.

O volume é o primeiro de uma trilogia.

The Lives of Tao, Wesley Chu, 460 págs., 2013, Angry Robots


AVALIAÇÃO: BOM    

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