segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

FC MADE IN BRAZIL



Por que nossos autores de FC não são publicados lá fora? Quer dizer, eu sei que existem alguns nomes mais estabelecidos, como Roberto de Sousa Causo e Carlos Orsi, que são veteranos em colaborações estrangeiras, com traduções de seus contos que vão do inglês a línguas eslavas. Também existem autores como Jacques Barcia e Fábio Fernandes que têm uma militância muito forte, no sentido de colocar a nossa FC num cenário internacional, principalmente no mundo de língua inglesa. Mas o que falta são edições em inglês, francês, ou russo, por exemplo, de romances de maior fôlego. Esses romances já existem? Sim. Como seria interessante ver uma edição americana ou francesa do novo livro de Gerson Lodi-Ribeiro, Aventuras do Vampiro de Palmares. Uma história alternativa madura com referências tão ligadas à nossa cultura, sem ser politicamente correto ou de visão estereotipada.

Mas o que é necessário para que isso aconteça? Alguns dizem que para um livro ganhar traduções pelo mundo, primeiro ele precisa fazer o dever de casa, ou seja, ser um best-seller em seu próprio país. O que chamaria a atenção de editoras estrangeiras para o potencial de vendas da obra. Outra possibilidade seria incluir livros como o de Lodi-Ribeiro em programas de incentivo à tradução, patrocinados por governos nacionais. Qual seria o melhor? Na verdade, no caso brasileiro, a pergunta correta é: qual seria o possível? A segunda alternativa é a mais provável. Infelizmente, a importância cultural do Brasil para o resto do mundo é pequena. Portanto, seus bens culturais geram baixa expectativa por parte de consumidores estrangeiros. As referências para criar esse interesse são muito poucas e vivem, ou viviam, momentos cíclicos. Parece que agora há uma sensação de recomeço que veio para ficar. Mesmo assim, ainda não é suficiente para aumentar essa expectativa gringa.

Na FC, autores russos, franceses e de alguns outros países de língua não inglesa sempre tiveram esse reconhecimento por parte de editoras americanas e inglesas, fosse por pequenas ou grandes casas. Então eu pergunto: onde estavam nossos autores nas décadas passadas nesse cenário internacional? Minha pergunta é uma provocação, mas também uma forma de aprendizagem.

Atualmente, autores nacionais da chamada "alta literatura" têm seus livros quase que simultaneamente traduzidos por meio de programas de tradução ou acordos entre editoras daqui e de fora. Alguns consideram essa manobra meio artificial, justamente pela falta de legitimação do mercado. Afinal, só se traduz aquilo que é sucesso de público ou de crítica. Para mim, os dois caminhos são válidos. Agora claro que é muito mais gostoso ser traduzido devida às vendas e à repercussão, pelo fato de o livro ter caminhado com suas própria pernas. Mas, se formos esperar por isso, muitos autores nacionais, e alguns deles com total merecimento de causa, deixariam de ter a possibilidade de conquistar um público leitor maior e talvez até mais apaixonado por uma FC menos convencional, como os franceses. Então lanço outra pergunta: por que autores de FC nacionais não beneficiados por programas de tradução? Caso já sejam, me corrijam. Seria tão bom se eu estivesse errado.

O novo interesse do mercado editorial americano são autores de FC chineses. Pelo menos em um caso, o hype surgiu porque o autor foi best-seller e multipremiado em seu país. Então uniu-se o útil ao agradável. Houve o selo de aprovação do mercado e o autor vem de um país cultural e economicamente importante no cenário mundial. A cereja do bolo é que o romance do sujeito tem uma boa premissa de FC, parece trazer alguma coisa de novo. Portanto, uma editora como a Tor teve todas as justificativas para lançar o romance de um estrangeiro num mercado pouco aberto a traduções. Claro que essa edição em inglês terá um alcance maior. Será uma forma de leitores em vários países conhecer esse autor. A Tor avaliou que valia a pena o investimento. Em relação à nossa FC, também acredito que alguns autores valem o investimento. Então lanço minha última pergunta: o que pode ser feito para que isso aconteça?

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