sábado, 14 de fevereiro de 2015

CRÍTICA DA 1ª TEMPORADA DE AGENTS OF SHIELD



Terminei de assistir à primeira temporada de Agents of SHIELD, e posso dizer que ela se tornou meu mais novo vício!

O piloto da série é decepcionante. Um verdadeiro coito interrompido. As expectativas eram altas e elas não se confirmaram. Claro que eu não podia esperar algo no nível do universo Marvel no cinema, com seus principais heróis e efeitos especiais milionários.

AoS é uma série de TV aberta, o que geralmente significa entretenimento mais convencional. Então eu esperava um programa que fosse divertido, assim como Arquivo X e Fringe eram. Que expandisse o que foi mostrado no cinema, com possibilidade de usar personagens da Marvel menos conhecidos, mas não menos interessantes. Contudo, o que eu vi no piloto foi uma trama enfadonha sobre o drama de um cara com superpoderes, e a investigação da SHIELD para descobrir como ele tinha os adquirido. Pior, a química do time protagonista não funcionava. Todos os clichês estavam lá: o agente caxias que reúne um bando de desajustados (Coulson), os ratos de laboratório jovens e esquisitinhos (Fitz-Simmons), o agente de campo cabeça dura e letal (Ward), a veterana enfezada e igualmente letal (May) e a hacker espertinha (Skye). Aí eu pensei: Oh, boy, mais do mesmo. Então a série teria mais 21 episódios disso? Desisti de acompanhá-la. Tinha tanta coisa melhor para assistir.

O tempo foi passando, a série ia sendo exibida, e os fãs se decepcionando. Os problemas de roteiro continuavam. Os boatos de cancelamento começaram a surgir. O mais decepcionante era saber que a série tinha o dedo de Joss Whedon, atual mente criativa da Marvel e criador de duas séries antológicas, Buffy e Firefly. Os showrunners tinham que fazer mudanças drásticas ou a série morreria. Então depois do midseason, a primeira temporada voltou e as notícias eram de que a coisa começou a engrenar. Ao terminar de assistir a primeira temporada, dá para perceber a diferença.

Nos primeiros dez episódios, o formato da série era basicamente do vilão da semana, com pouco investimento nos personagens, principalmente nos protagonistas, e tendo um arco mais ambicioso de fundo, só que caminhando devagar demais. Nos doze episódios seguintes, a série melhorou, porque ficou mais focada. Os produtores decidiram tirar o grande arco da série do armário e investir nos conflitos dos personagens. Acompanhamos o amadurecimento da relação entre os agentes da SHIELD. E digo amadurecimento não apenas no sentido positivo. A cada missão, a cada perigo enfrentado, eles passam a ficar mais conectados uns com os outros, gerando dilemas pessoais e entre eles. Os roteiristas da série deram um upgrade na personalidade de cada um, fazendo algo interessante: passaram a brincar com os clichês que cada personagem representa. Coulson não tem mais tanta certeza do que está fazendo; Fitz-Simmons se tornam cientistas bastante emocionais, expressando mudanças de comportamento às vezes imprevisíveis; Ward se mostra mais complexo do que aparenta; May se revela alguém que se importa por trás de sua máscara de frieza; e Skye sente o peso de guardar um segredo assustador. A gente começa a gostar desses personagens.

Outra melhora foi na condução da narrativa. Apesar de continuarem a exibir episódios não relacionados à trama principal (afinal, na TV aberta americana é preciso encher linguiça), tudo relacionado ao arco maior tem um desenvolvimento num ritmo mais acertado e de maneira mais eletrizante. A cada episódio, as coisas se complicam mais, e os agentes têm menos certezas. As revelações são difíceis de assimilar para eles. E novos mistérios abalam a confiança de todos. As soluções de roteiro são geralmente orgânicas, não apelando tanto para truques fáceis ou batidos. Na segunda metade da temporada, há uma grande virada com um dos agentes e suas motivações são explicadas de maneira satisfatória. É algo que o leitor de quadrinhos já está acostumado e releva se for para melhorar a trama.

Outro ponto positivo são os vilões. Porque uma boa estória tem que ter vilões marcantes. Mesmo que os caras maus da série não consigam rivalizar com vilões clássicos da Marvel, os atores que os interpretam se esforçam bastante para que a gente os odeie. E o elemento mais intrigante é ver boas pessoas se tornarem vilões bem convincentes.

O maior acerto de AoS foi confiar em sua própria mitologia. No início, a série estava muito submissa aos eventos do cinema, fazendo um fan service rasteiro. Quando ela passou a usar tais eventos de maneira mais relevante, conseguiu um salto de qualidade absurdo. Por exemplo, os eventos de Capitão América 2 são cruciais para a série.

Aqui menos é mais. Há personagens poderosos, mas não há os excessos de um filme como Os Vingadores, que é divertido, mas a verdade é que não ligamos muito para quem está ao redor do Homem de Ferro, Capitão América, Thor e companhia. Todo o resto parece tão pequeno, tão insignificante. Mesmo que a intenção dos heróis mostre o contrário. Na série, todo mundo conta. E problemas extraordinários têm quer resolvidos por gente comum.  

Agents of SHIELD, vários diretores, Marvel/ABC Studios


NOTA:


Nenhum comentário:

Postar um comentário