Terminei de assistir à primeira temporada de Agents
of SHIELD, e posso dizer que ela se tornou meu mais novo vício!
O piloto da série é decepcionante. Um verdadeiro
coito interrompido. As expectativas eram altas e elas não se confirmaram. Claro
que eu não podia esperar algo no nível do universo Marvel no cinema, com seus
principais heróis e efeitos especiais milionários.
AoS é uma
série de TV aberta, o que geralmente significa entretenimento mais
convencional. Então eu esperava um programa que fosse divertido, assim como
Arquivo X e Fringe eram. Que expandisse o que foi mostrado no cinema, com
possibilidade de usar personagens da Marvel menos conhecidos, mas não menos
interessantes. Contudo, o que eu vi no piloto foi uma trama enfadonha sobre o
drama de um cara com superpoderes, e a investigação da SHIELD para descobrir como ele tinha os adquirido. Pior, a química do time
protagonista não funcionava. Todos os clichês estavam lá: o agente caxias que reúne
um bando de desajustados (Coulson), os ratos de laboratório jovens e esquisitinhos
(Fitz-Simmons), o agente de campo cabeça dura e letal (Ward), a veterana enfezada
e igualmente letal (May) e a hacker espertinha (Skye). Aí eu pensei: Oh, boy,
mais do mesmo. Então a série teria mais 21 episódios disso? Desisti de acompanhá-la.
Tinha tanta coisa melhor para assistir.
O tempo foi
passando, a série ia sendo exibida, e os fãs se decepcionando. Os problemas de
roteiro continuavam. Os boatos de cancelamento começaram a surgir. O mais
decepcionante era saber que a série tinha o dedo de Joss Whedon, atual mente
criativa da Marvel e criador de duas séries antológicas, Buffy e Firefly. Os showrunners
tinham que fazer mudanças drásticas ou a série morreria. Então depois do midseason, a primeira temporada
voltou e as notícias eram de que a coisa começou a engrenar. Ao terminar de
assistir a primeira temporada, dá para perceber a diferença.
Nos primeiros dez episódios, o formato da série era
basicamente do vilão da semana, com pouco investimento nos personagens,
principalmente nos protagonistas, e tendo um arco mais ambicioso de fundo, só que
caminhando devagar demais. Nos doze episódios seguintes, a série melhorou, porque
ficou mais focada. Os produtores decidiram tirar o grande arco da série do
armário e investir nos conflitos dos personagens. Acompanhamos o amadurecimento
da relação entre os agentes da SHIELD. E digo amadurecimento não apenas no
sentido positivo. A cada missão, a cada perigo enfrentado, eles passam a ficar
mais conectados uns com os outros, gerando dilemas pessoais e entre eles. Os
roteiristas da série deram um upgrade na personalidade de cada um, fazendo algo
interessante: passaram a brincar com os clichês que cada personagem representa.
Coulson não tem mais tanta certeza do que está fazendo; Fitz-Simmons se tornam
cientistas bastante emocionais, expressando mudanças de comportamento às vezes
imprevisíveis; Ward se mostra mais complexo do que aparenta; May se revela
alguém que se importa por trás de sua máscara de frieza; e Skye sente o peso de
guardar um segredo assustador. A gente começa a gostar desses personagens.
Outra melhora foi na condução da narrativa. Apesar de
continuarem a exibir episódios não relacionados à trama principal (afinal, na
TV aberta americana é preciso encher linguiça), tudo relacionado ao arco maior
tem um desenvolvimento num ritmo mais acertado e de maneira mais eletrizante. A
cada episódio, as coisas se complicam mais, e os agentes têm menos certezas. As
revelações são difíceis de assimilar para eles. E novos mistérios abalam a confiança de todos.
As soluções de roteiro são geralmente orgânicas, não apelando tanto para
truques fáceis ou batidos. Na segunda metade da temporada, há uma grande virada
com um dos agentes e suas motivações são explicadas de maneira satisfatória. É algo
que o leitor de quadrinhos já está acostumado e releva se for para melhorar a
trama.
Outro ponto positivo são os vilões. Porque uma boa
estória tem que ter vilões marcantes. Mesmo que os caras maus da série não
consigam rivalizar com vilões clássicos da Marvel, os atores que os interpretam
se esforçam bastante para que a gente os odeie. E o elemento mais
intrigante é ver boas pessoas se tornarem vilões bem convincentes.
O maior acerto de AoS foi confiar em sua própria mitologia. No início, a série
estava muito submissa aos eventos do cinema, fazendo um fan service rasteiro.
Quando ela passou a usar tais eventos de maneira mais relevante, conseguiu um
salto de qualidade absurdo. Por exemplo, os eventos de Capitão América 2 são cruciais para a
série.
Aqui menos é mais. Há personagens poderosos, mas não
há os excessos de um filme como Os Vingadores, que é divertido, mas a verdade é
que não ligamos muito para quem está ao redor do Homem de Ferro, Capitão
América, Thor e companhia. Todo o resto parece tão pequeno, tão insignificante.
Mesmo que a intenção dos heróis mostre o contrário. Na série, todo mundo conta.
E problemas extraordinários têm quer resolvidos por gente comum.
Agents of SHIELD, vários
diretores, Marvel/ABC Studios
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