sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

PARA LER OUVINDO IN RAINBOWS PARTE 5 FINAL

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Agora estou numa sala ampla com móveis luxuosos e antigos. Estou completamente seco. Nem sinal dos bagres gigantes, da chuva, dos raios.

A garrafa de vidro com o mapa sumiu da minha cintura. Será que cheguei ao meu destino?

Pelas janelas altas, vejo uma noite de lua cheia. Parece não ter ninguém na casa.

Mas logo uma sombra volumosa e disforme vem caminhando em minha direção.

Sob a luz, acaba o mistério, mas não o espanto: é um palhaço corpulento, de cara branca e de nariz e cabelo violeta.

Em silêncio, ele levanta os ombros, mexe os braços e as mãos, faz uma careta me convidando a entrar.

Ele segue o caminho de volta. Eu vou logo atrás. Nos deparamos com uma robusta porta fechada.

Antes de o palhaço abri-la, ele sorri para mim de forma assustadora.

Atrás da porta, há uma sala de jantar, onde outros palhaços nos esperam.

Todos estão de pé, ao redor de uma mesa comprida e farta, com dez ou doze deles de cada lado.

Palhaços de maquiagens, roupas e tamanhos diferentes me encarando. Tento disfarçar meu medo.

O palhaço de nariz e cabelo violeta aponta para a cadeira vazia da cabeceira.

Eu me sento. Os outros palhaços fazem o mesmo. Meu anfitrião permanece de pé.

Os palhaços se põem a comer, beber, conversar e rir. Eu apenas como e bebo, cauteloso, observando tudo.

Eles parecem não se importar com minha presença. Imaginei que eu fosse o convidado especial.

Olho para o lado e vejo que o palhaço de nariz e cabelo violeta desapareceu.

Começo a pensar em como sair dali, como posso continuar minha busca, e o que aquele lugar tem a ver com ela.

Percebo que um dos palhaços, de quando em quando, me encara, firme.

Sempre o encaro de volta, hesitante.

Os outros palhaços continuam a aproveitar o banquete.

O palhaço me encara uma última vez, e levanta-se.

Os outros palhaços parecem não se importar com sua ausência, como se fosse invisível.

O palhaço se aproxima de uma porta lateral, e desaparece na escuridão de outro cômodo.

A porta fica aberta.

Não quero saber se é um convite ou não. Me levanto. Vou em direção à porta.

Os outros palhaços também não dão a mínima.

O cômodo é tão escuro que não tem como ver qual seu verdadeiro tamanho.

Deve ser enorme. O palhaço está distante, sentado numa cadeira, no único ponto iluminado do recinto. Ele está de costas para mim.

Vou ao seu encontro.

Lembro de quando meu pai me levou ao circo pela primeira vez.

Minha expectativa era imensa. Nunca tinha visto animais selvagens de perto. Estava lá para ver macacos, leões e elefantes.

Mas, para minha surpresa, acabei me encantando com uma jovem trapezista. Acho que foi minha primeira paixão.

Estou mais perto do palhaço. Percebo que ele está sentado numa cadeira modesta. Está imóvel, os braços arriados, as costas relaxadas.

A fonte de luz são lampadazinhas fracas em volta do espelho da mesa de pernas finas.

O palhaço começa a tirar a maquiagem. Sua verdadeira pele se revela aos poucos. Ele me olha através do espelho.

São olhos tão familiares.

Um susto. É óbvio, imbecil.

Outro susto. Uma voz feminina me avisa: "Tempo encerrado. Para continuar a sessão, renove seus créditos... ".

FIM

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