quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

PARA LER OUVINDO IN RAINBOWS PARTE 3

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O deserto se torna sombrio. As nuvens se fecham. Começa a chover forte. Os grossos pingos de água fazem da areia lama.

Para proteger o mapa, coloco-o de volta na garrafa de vidro.

Meus pés estão cobertos de lama. Meus passos ficam pesados. Mas vou adiante, insisto, agora sei para onde ir. 

Tudo o que tenho a fazer é esperar. Pelo momento certo.

O sinal são os raios, cortando o céu, atingindo o solo.

Lá estão eles! À minha frente, no horizonte, emitindo sua música assustadora.

Para ver melhor, enxugo o rosto com a mão várias vezes. Não dou muita importância aos grossos pingos de chuva me atingindo.

Os raios são tão brancos. Sinto uma mistura de medo e prazer ao contemplá-los.

Entre os raios, já posso vê-los, batendo suas enormes nadadeiras, lenta e graciosamente.

São bagres gigantes, multicolores. As tonalidades mudam a todo momento.

Preciso seguir as instruções do mapa.

Para montar nos bagres gigantes, a pessoa tem de gritar muito, muito alto. Para chamar a atenção deles. Fazê-los voar bem baixo.

Assim é possível agarrar-me a um dos bagres e seguir meu caminho.

Uma carona direto para A Montanha de Todos os Saberes, como indica o mapa. 

Os bagres gigantes estão se aproximando. Os raios estrondosos os acompanham.

Coloco a garrafa na cintura, dentro da calça folgada.

Inspiro fundo, encho os pulmões, fecho os olhos.

Nunca gritei com tanta força. A chuva não me atrapalha. Eu continuo a gritar, a gritar, a gritar.

Quando termino, um acesso de tosses acaba comigo.

Deu certo. Os bagres gigantes estão se aproximando, diminuem cada vez mais de altitude.

Agora tenho que me concentrar. Não posso perder a chance de montar em um deles.

Mesmo eu todo molhado, mesmo com suas escamas escorregadias, tenho de conseguir.

Eles vêm ao meu encontro. Os raios fazem a terra tremer. É agora.

Agarro-me à nadadeira de um dos primeiros bagres gigantes. Com dificuldade, monto nele. Faço de seus bigodes rédeas.

Ganhamos altitude. Agora sou eu quem atinge a chuva. O som dos raios à minha volta é ensurdecedor.

Agora meu coração está acelerado por outro motivo. O medo deu lugar ao êxtase.

Seguro-me ao bagre gigante com um pouco mais de destreza, de segurança.

O que me permite curtir a viagem. Mesmo com a chuva me encharcando, e os raios explodindo.

A cena me faz lembrar do dia em que eu e meu pai saímos de moto.

Numa manhã ensolarada, meu pai apareceu em casa com a moto de um amigo.

Aproveitamos a ausência de minha mãe para andarmos por estradas no litoral.

Fiquei na garupa, agarrado à sua cintura. Como era gostoso sentir o vento forte no rosto, o coração acelerar.

Foi nossa última aventura antes de ele partir.

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